“13 horas: Os Soldados Secretos de Benghazi” funciona como ação, mas falha como drama

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Em 2014, quando esteve no Rio de Janeiro para divulgar “Transformers: A Era da Extinção”, o diretor Michael Bay anunciou que gostaria de fazer um filme menor do que a série das aventuras que são sucesso de bilheteria (mas não de crítica) dos robôs que viram carros. Lá no fundo, o cineasta quer meso ser reconhecido como um bom realizador de obras mais sérias e ele até que tentou, em 2001, com “Pearl Harbor”, mas não foi bem sucedido. Porém, ele não desistiu e resolveu direcionar todo o seu arsenal para contar a sua versão de um recente e impactante episódio ocorrido na Líbia, que causou consternação entre os americanos e um certo desconforto para a então secretária de Estado e atual pré-candidata à presidência dos EUA, Hillary Clinton.

Assim, chega aos cinemas “13 horas: Os Soldados Secretos de Benghazi” (“13 Hours: The Secret Soldiers of Benghazi”), que mostra que Bay realmente é um ótimo coordenador de cenas de ação, mas ainda peca por conduzir cenas dramáticas que caem na pieguice e no clichê.

Inspirado no livro de Mitchell Zuckoff, o filme se passa em 2012, quando o ex-militar Jack Silva (John Krasinski) chega a Benghazi, atendendo a um pedido do amigo Tyrone “Rone” Woods (James Badge Dale) para fazer parte da equipe de segurança de um complexo da CIA e da embaixada dos EUA na cidade, considerada uma das mais violentas do mundo.

Apesar da tensão constante, tudo ia conforme o esperado até que, no dia 11 de setembro, exatamente onze anos após os atentados que culminaram com a destruição das Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York, um grupo de terroristas decidiu atacar a embaixada, onde estava o diplomata americano na Líbia, J Christopher Stevens (Matt Letscher).

Apesar das ordens superiores para não interferirem, Jack e Rone, junto com Kris “Tanto” Paranto (Pablo Schreiber), Dave “Boon” Benton (David Denman), John “Tig” Tiegen (Dominic Fumusa), Glen “Bub” Doherty (Toby Stephens) e Mark “Oz” Geist (Max Martini), decidem tentar resgatar o embaixador e impedir que os terroristas continuem a atacar, já que não contam com uma ajuda maior do governo, mesmo que morram lutando.

Inspirado em filmes de guerra recentes, como “Guerra ao Terror” e “A Hora Mais Escura”, de Kathryn BigelowMichael Bay divide “13 horas: Os Soldados Secretos de Benghazi” em duas partes.

A primeira se dedica quase que inteiramente a mostrar a rotina dos protagonistas no complexo, suas missões (onde nada muito relevante acontece), além das relações com suas famílias, com cenas melosas dos personagens conversando com suas esposas e filhos pelo computador.

A segunda, bem mais interessante, faz o cineasta se esbaldar com diversas sequências de tiroteios e bombardeios, do jeito que Bay gosta, embora sem muita originalidade. O diretor chega ao cúmulo de plagiar a si mesmo num momento que lembra o muito que ele já tinha feito em “Pearl Harbor”.

Clint Eastwood, por exemplo, foi bem mais inventivo em filmar batalhas no Oriente Médio com seu polêmico “Sniper Americano”. Mas, por incrível que pareça, é o melhor trabalho do diretor em anos, apesar dos clichês e das patriotadas que já fazem parte de seu “estilo”. Afinal, não seria um filme de Michael Bay sem bandeiras dos EUA tremulando ou enquadramentos para deixar os atores mais heroicos na hora da ação.

Porém, o problema mais grave do filme não está na direção, mas sim no roteiro. O texto, escrito por Chuck Hogan, mais conhecido pelo seu trabalho na série “The Stain”, junto com Guillermo del Toro, até que se preocupa em desenvolver os personagens. O problema é que ele exagera na dose e, para piorar, cria diálogos realmente constrangedores que acabam gerando risos involuntários da plateia, às vezes no meio de uma situação realmente tensa. Além disso, eles ajudam a tornar a primeira parte da produção pior do que ela já é, prejudicando a tentativa de Bay realizar um bom trabalho.

O elenco irregular não tem um grande destaque, mas não compromete, embora John Krasinski pareça desconfortável em interpretar Jack Silva. O ator nunca soa convincente nos momentos mais dramáticos e fica mais complicado de aceitá-lo nas cenas em que fala sobre sua família no meio do confronto.

James Badge Dale está apenas OK como Rone. Quem está um pouco melhor é Pablo Schreiber, irmão de Liev Schreiber, que consegue alternar bem os momentos mais descontraídos com os mais intensos de seu personagem, tornando-o mais interessante do que os outros soldados.

Com uma excelente parte técnica, especialmente na edição de som e efeitos sonoros, “13 horas: Os Soldados Secretos de Benghazi” ainda não é o filme que fará com que Michael Bay seja reconhecido como bom diretor. Mas ele chegou bem perto desta vez. Só precisa ser mais original na próxima. De qualquer forma, a produção pode até agradar aos fãs de filmes de guerra que procuram ser “realistas”, na medida do possível. Mas quem discorda da visão ufanista que os americanos gostam de mostrar em relação às questões exteriores deve passar bem longe. Trate-o como um passatempo, desligue um pouco o cérebro e divirta-se.

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