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Guy Ritchie e sua incursão pelo mundo da espionagem em O Agente da U.N.C.L.E

2015 parece estar sendo mesmo o ano da espionagem no cinema. Já tivemos a boa surpresa “Kingsman – Agente Secreto”, a comédia “A Espiã Que Sabia De Menos” e ainda chegará aos cinemas em novembro “007 Contra Spectre”, novo filme da maior franquia de espionagem do cinema. No meio do caminho chega às telas “O Agente da U.N.C.L.E” (The Man of U.N.C.L.E, EUA/2015), adaptação para o cinema de um seriado de TV dos anos 60.

Essa convergência de filmes de espionagem pode ser até explicada pelo escândalo da NSA deflagrado por Edward Snowden, que provou o que todo mundo sabia: que a constante vigilância dos EUA sobre tudo o que se passa no mundo, seja em relação a cidadãos comuns ou matérias de governo. A situação causou mau estar mundial e mostrou que a era de ouro da espionagem não ficou na época da guerra fria, quando os agentes secretos invadiram o cinema, a TV e a literatura. O curioso é que agentes secretos revelam que a vida de espião em nada lembra o glamour e a ação vistos no cinema, pelo contrário, é uma rotina morosa, desprovida de excitação, com horas de espera, escutas que muitas vezes não levam a nada e alarmes falsos. Ainda haverá um diretor corajoso que terá a habilidade de retratar em um blockbuster a vida real de um espião, sem a pirotecnia, mas ainda assim proporcionando uma trama interessante. Mas o filme em questão não se arrisca e segue mesmo a receita de bolo.

O cenário do longa é o início da década de 1960, no auge da Guerra Fria e das ações de espionagem, com história centrada no agente da CIA, Napoleon Solo (o Superman Henry Cavill), e no agente da KGB, Illya Kuryakin (Armie Hammer, de “A Rede Social” e “Cavaleiro Solitário”). Forçados a deixarem de lado as antigas diferenças, os dois se unem em uma missão para parar uma misteriosa organização criminosa internacional, que está empenhada em desestabilizar o poder com a proliferação de armas nucleares e tecnologia militar. A única pista da dupla na investigação é a filha de um cientista alemão desaparecido, que pode ser a chave para eles se infiltrarem na organização criminosa. Agora os dois precisam correr contra o tempo para encontrar o cientista e evitar uma catástrofe mundial.

O diretor e ex-marido de Madonna, Guy Ritchie, empreende aqui sua alegoria de espionagem após duas incursões pelo universo de Sherlock Holmes. Ele assina o roteiro juntamente com Lionel Wigram (que também fora seu colaborador em Sherlock Holmes) em cima da história escrita pela dupla Jeff Kleeman e David Campbell Wilson. Não é muito difícil para quem acompanha o trabalho do cineasta reconhecer sua linguagem visual estampada no filme.

Ritchie chamou atenção com seu “Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes” e foi logo chamado de “Tarantino inglês”, dado seu apreço pela violência estilizada. Aqui ele repete seus maneirismos, sobretudo os vistos nos filmes de Sherlock Holmes. Fica bastante evidente a falta de pretensão da película. O objetivo de Ritchie é proporcionar uma diversão ligeira, aquele típico projeto que um cineasta produz enquanto elabora algo mais audacioso.

O que pode ser considerado um grande acerto do filme é não ter atualizado a trama como se costuma fazer com adaptações de séries antigas para o cinema. O clima dos filmes e seriados dos anos 60 está ali na fotografia de John Mathieson (“O Fantasma da Ópera”, “Gladiador”), na edição que em alguns momentos divide a ação em quadros diferentes, na ótima trilha sonora e na música composta por Daniel Pemberton (“O Conselheiro do Crime”).

Além disso, o diretor fez questão de não abdicar de sua fina ironia, compondo não uma exaltação, mas um questionamento ao trabalho do serviço secreto, usando os anos sessenta apenas como uma alegoria, quando o verdadeiro alvo é a ação discutível da espionagem ocidental no presente momento. O tom de crítica pode ser sentida logo na frase do poster “salvar o mundo nunca sai de moda “.

Já o ponto fraco é a sensação de que o argumento foi prolongado, apesar de a duração não ser tão extensa (são 116 minutos), e uma resolução um tanto anticlimática para o conflito central.

No elenco, é curioso para os fãs de quadrinhos ver juntos em cena o Super-Homem e o “quase Batman”, já que Hammer era cogitado para viver o homem-morcego no filme da Liga da Justiça quando George Miller de Mad Max era cotado para ser o diretor. Hugh Grant, se distanciando cada vez mais do ofício de galã, ocupando um papel que poderia ter cabido a Michael Caine, por exemplo.

Por fim, “O Agente da U.N.C.L.E” deve ser visto no mesmo espírito com que foi feito, sem pretensões ou grandes expectativas, procurando apenas a diversão que o diretor parece ter tido.

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