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A imponderável despedida de “Homeland”

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Nascida da costela de uma série israelense (Hatufim), Homeland surgiu e foi se sedimentando em cima do vigoroso plot ambíguo de sua história original. Carrie Mathison (o papel da vida de Claire Danes), uma exímia agente da CIA, para além de lidar com o obscurantismo de sua bipolaridade, se vê enredada na desconfiança de que Nicholas Brody (Damian Lewis), soldado americano condecorado pela pátria após ser resgatado de um cativeiro talibã, tenha se transformado num agente duplo.

A história se alimentou (e nos intrigou) por sólidas três temporadas nessa perspectiva, até que num ato de coragem, a série tomou um rumo nos seguintes, que debruçava quase que exclusivamente na complexidade de sua protagonista, e no que isso significava para os EUA, sob olhar de seu mentor Saul Berenson (o brilhante Mandy Patinkin).

Ao desviar de estruturas dramáticas esquemáticas, e investir na conjuntural emocional de Carrie e Saul, Homeland se reinventou, não sem cometer deslizes óbvios de uma jornada que não precisava de oito temporadas para acontecer. Sua temporada final, que acaba de ir ao ar, aglutinou seus vícios e maneirismos, mas também sublinhou sua maturidade.

O contexto político é previsível e as peças do jogo também. Mas Carrie não. Muito menos a maneira como se enxerga nele. A série termina conhecendo muito bem seus trunfos. E são eles, Carrie e Saul, que engrandecem até um “mundo” já cansado de controvérsias criadas para eles brilharem.

O último episódio, “Prisoners of War”, coroa as pontes (sinuosas) atravessadas até ali. Numa das cenas mais cruciais (e desesperadoras para quem os conhece bem), ouvimos ao fundo “Réquiem” de Mozart, que é uma missa que foi deixada incompleta devido à morte do compositor. A canção e a relação (paternal) dos dois, não acabam ali. Nem o sentido de suas escolhas. Homeland desvia de toda a previsibilidade que se imaginava do seu fim.

O final não é necessariamente aberto. É imponderável. Como só as grandes séries souberam ser nos últimos anos. Carrie vai fazer muita falta…

Avaliação

Temporada final: 4 de 5 estrelas
Toda a série: 4,5 de 5 estrelas

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