Peter e sua raposa são inseparáveis desde que ele a resgatou, órfã, ainda filhote. Um dia, o inimaginável acontece: o pai do menino vai servir na guerra, e o obriga a devolver Pax à natureza. Ao chegar à distante casa do avô, onde passará a morar, Peter reconhece que não está onde deveria: seu verdadeiro lugar é ao lado de Pax.
Movido por amor, lealdade e culpa, ele parte em uma jornada solitária de quase quinhentos quilômetros para reencontrar sua raposa, apesar da guerra que se aproxima. Enquanto isso, mesmo sem desistir de esperar por seu menino, Pax embarca em suas próprias aventuras e descobertas.
A literatura infanto-juvenil tem exemplos de livros provocativos, com suas estórias que marcam pela emoção e pelas importantes lições que passam. E há leituras que tem muito a dizer, Pax é uma delas, por aprofundar por sua beleza e por sua crueza. A Intrínseca publicou Pax em 2016, da autora de livros infantis Sara Pennypacker, uma história encantadora e cheia de lições.
Análise
Com uma narrativa direta e fluida, conhecemos Peter, um garotinho que vive por e para sua raposa de estimação, desde que a resgatou e que se tornou uma parte essencial de sua vida. A enérgica e leal raposinha não conhece outra vida que não seja ao lado de seu humano, desfrutando de seu carinho e amizade. Mesmo que em alguns momentos o pai do garoto seja um obstáculo pelos limites impostos.
Tudo muda quando o pai de Peter decide se alistar para a guerra, levando o filho para o cuidado do avô e a raposa devendo voltar ao bosque que foi encontrada. Mesmo com a recusa, Peter submete ao autoritário pai e abandona sua amiga.
Assim começa o primeiro capítulo do livro, o início de uma longa jornada que ambos, Peter e Pax, devem empreender.
A angústia de Peter, sabendo que sua amiga está num lugar perigoso, o leva a ir em busca de Pax. A raposinha, por sua vez, encontra-se desamparada, sem saber caçar ou mesmo se abrigar, enfrentando outros animais, enquanto permanece no mesmo lugar onde Pedro o deixou, pois sabe que ele irá buscá-la.
Muito mais do que uma história emocionante, Sara Pennypacker não tenta amenizar situações reais, mas as mostra com a crueza que realmente as define. Essa jornada em que o menino e a raposa começam a se reunir também é uma questão de autodescoberta. Enquanto Pax deve se adaptar e se tornar um animal selvagem, Peter deve amadurecer e deixar sua infância para trás.
As reflexões que a autora transmite sobre a guerra e suas consequências são fascinantes. Nesse caso, não vemos apenas a perspectiva de cidadãos fugindo de suas casas ou de soldados sofrendo com ferimentos, explosões e perdas. Também sentimos como a natureza sofre: animais, recursos naturais e paisagens desaparecem. Todos aqueles seres vivos completamente alheios à luta dos homens e que, no entanto, são as principais vítimas.
“A guerra é uma enfermidade humana…”
Da mesma forma, podemos sentir o poder destrutivo da guerra em mudar as pessoas e as deixa vazias, com esperanças e sonhos perdidos. Embora aborde um conflito bélico, Pax é uma história que visa mostrar o lado positivo do ser humano em meio a tanta ruína. Esperança e paz são os principais valores outorgados.
Os personagens são bem construídos, em especial o desenvolvimento de seu pensamento. As várias perspectivas para um mesmo cenário e como a guerra influencia cada um. A evolução de cada um deles, sobretudo, os dois protagonistas vale a leitura.
A narração é cuidadosa e precisa, os capítulos são divididos conforme sejam contados pela perspectiva de Peter ou Pax e é fantástico encontrar uma marca tão clara da mente e da personalidade de cada um. Expor o desenvolvimento do menino em sua tentativa de enfrentar a ferocidade herdada pelo pai, enquanto a raposa, domesticada, segue o caminho contrário, explorando sua natureza selvagem.
E é incrível ver o mundo pelos olhos de uma raposa; sobretudo os detalhes que nos fazem sentir como se estivéssemos sentindo os revezes da floresta.
Por fim, podemos colocar que as ilustrações que alternam entre as páginas de Pax, da mão de Jon Klassen, são maravilhosas e ajudam a mergulhar na história e naquela floresta pela qual acompanhamos Pax em seu caminho para abraçar sua verdadeiro natureza.
Conclusão
Pax é um chamado à paz, uma amostra das consequências da guerra tanto entre os humanos quanto na natureza e seus animais. Numa cativante história de amizade entre um menino que está se transformando em um homem e uma raposa que deve deixar de ser quem é.
Os personagens e a narração são brilhantes nesta história cheia de reflexões sobre sobre amizade, relações familiares, recomeços e as dolorosas consequências deixadas pela guerra. Não é um livro tão infantil, mas ara um público mais adolescente e, sem dúvida, adultos irão apreciá-la da mesma forma. Recomendo sua leitura, pela abordagem especial que a autora faz.
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