Madrugada alta. Acordo com zumbis invadindo minha cidadela. Tropas deixadas fora recolhendo suprimentos, defesa fragilizada por ataques de assassinos inimigos em uma das inúmeras guerras da semana. Sobreviver é o desafio. O inimigo? Zumbis sanguinários, adversários desesperados por recursos, em alguns casos, amigos pouco confiáveis em sua própria aliança. Traições ocorrem e são punidas severamente. Todos estão à espreita e dispostos a tudo por mais um dia.
A base pega fogo. Labaredas tomam conta da lateral da base. Nada que um ajuste nas linhas defensivas não resolva. Antes de voltar a dormir produzo alguns soldados, aumento a capacidade de desenvolvimento tecnológico da minha guarnição, essencial para meus batalhões aguentaram mais. Estou em um nível intermediário. Já não sou atacado com frequência pelos membros no meu estado, posso dormir sem escudos sabendo que os mais fortes não me enxergarão como alvo. Existem acordos diplomáticos que protegem as maiores alianças do ‘Estado’.
Quem me ataca eventualmente são os pequenos jogadores, seja por inexperiência ou para tentar medir forças. Quase não produzem estragos. Em meia hora deixo tudo preparado. Poderia voltar a dormir se não parasse para ler as mensagens do chat do jogo. O mecanismo de tradução para vários idiomas permite equipes formadas por participantes de diversos países, a realização de amizades é concreta, maior que em qualquer outro jogo que eu tenha participado. É uma das surpreendentes vantagens de Last Shelter Survival. Pelo chat já surgiram programações de viagens, paqueras, convites para trabalhos e, claro, muita estratégia de batalha. Tudo é possível no universo alternativo da resistência aos mortos-vivos.
Dividido em duas frentes o chat do game congrega todos os jogadores por aliança e por estado. Cada aliança pode ter até cem jogadores e existem no mínimo cento e vinte delas na área do grande mapa virtual que ocupamos. O número pode chegar a mais de dez mil jogadores por zona, cada um com uma frequência diferente de acesso ao game e em níveis diversos de força. Os que não encontram a defesa de uma aliança acabam deixando o jogo. Suas bases ficam abandonadas e servindo como fonte de recursos para os outros.
Em muitos casos, quando as bases já estão um pouco desenvolvidas, é normal que quem saia acabe entregando sua estrutura para algum amigo ou líder. Marcelo Rocha, conhecido como Vírus ou Push Dark, foi quem me trouxe para a aliança mais forte da nossa área de ação, a Res, e é dono de pelo menos quinze contas além da sua principal. Todas com um nível muito forte de desenvolvimento. Ele sozinho teria condições de montar uma aliança. É uma peça chave para a manutenção das relações diplomáticas entre os grupos. Existem as incógnitas, aqueles jogadores de quem nada se sabe e que tornaram essenciais para as partidas. Na Res o destaque é Wolfpt. É de Portugal e gasta fortunas toda semana para desenvolver-se rapidamente. Em um único dia torrou aproximadamente R$ 2.000,00. Como sabemos? Embora o jogo possa ser praticado de graça – assim como faço- quem deseja avançar mais rapidamente pode comprar recursos. A cada pacote adquirido por um jogador, todo o seu grupo é beneficiado. Wolfpt não ostenta riqueza ou se impõe pelo dinheiro. Papo fácil, bem humorado. Só não diz o que faz. Entre as várias teorias sobre suas ocupações, a de ser membro do staff do jogador Cristiano Ronaldo. Ele não confirma nem desmente. Outros jogadores são dos Estados Unidos, Dinamarca, Espanha. O ambiente é democrático. Do Brasil temos representantes de vários estados e a marca da tradicional ironia nacional em nomes de guerra como #lulalivre, Bolsonaro, Xurupita e outros.
A resistência aos zumbis e a defesa das cidades não é privilégio masculino, ao contrário, é forte a presença feminina no jogo. Ao menos trinta por cento dos participantes é de mulheres. O jogo é viciante, que o diga o gerente de uma loja para acessórios de telefonia móvel no Rio de Janeiro, Diego Pereira da Silva, de 32 anos, o Diegops1985 no game: “uso o jogo a cada momento que eu tenho livre, na condução para o trabalho, ao acordar, no almoço e antes de dormir”. É Diego quem aponta uma impressionante quantia de tempo diária dedicado ao Last Shelter. “Chego a ficar até 40% do meu tempo livre jogando”.
“É um jogo que a gente consegue levar sem gastar dinheiro e nele fiz muitos amigos, gente que até já saiu, já parou de jogar porque estava ficando muito tempo nele, mas continuam amigos, me mandando mensagens”, diz o gerente, reforçando minhas impressões de que o sistema de mensagens do Last Shelter é uma das suas melhores sacadas.
Ponto negativo, a interface entre desenvolvedores e jogadores é ruim e lenta. São constantes reclamações quanto à dificuldade dos usuários em relatarem problemas de comunicação com os programadores e equipe técnica deste que, apesar de alguns problemas, é o melhor game do gênero.
Jogo simula resistência realista
Montado sob a lógica dos jogos de RPG, Last Shelter simula o apocalipse zumbi e os desafios para sobreviver. Além do chat, outra vantagem do jogo é a capacidade de compreensão dos desafios dos jogadores em um hipotético cenário real e a sua aplicação gradativa no ambiente virtual. A cada atualização novas interações e possibilidades são aplicadas, dificultando a sobrevivência dos mais fortes e dando dinamismo ao plano de ação. A escassez de recursos é uma constante a que os jogadores precisam se acostumar. Quando acreditam dominar alguma técnica de sobrevivência um novo desafio é imposto.
Onde baixar: gratuitamente nas lojas de app do seu celular.
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