A esperada estreia de Shonda Rhimes na Netflix faz muito sentido à bem construída carreira da showrunner nos últimos 25 anos na TV norte-americana. Bridgerton é baseada na série de romances da autora Julia Quinn, publicada a partir de 2000.
A história possui admitidos ecos na obra de Jane Austen: passada na Londres vitoriana, acompanhamos o casal Daphne Bridgerton (Phoebe Dynevor) e Simon Basset (Regé-Jean Page). Ela quer arrumar o casamento dos sonhos. Ele descarta esse tipo de envolvimento pra sua vida. Mas obviamente, ambos se apaixonam e precisam lidar com as amarras pessoais de cada um.
Criada por Chris Van Dusen, um dos braços da Shondaland, a série capta essa essência literária direta e, com o “tempero” de Shonda, se desenvolve engenhosamente dentro de seu romantismo claro. Essa honestidade funciona ao longo de seus oito episódios, muito pelo carisma de seu elenco, sobretudo o casal protagonista.
Aliás, após anos criando e produzindo para a principal TV aberta dos EUA, Shonda aqui pode ter mais liberdade para falar e mostrar o sexo em suas tramas, sem restrições de classificação indicativa.
Assim como seu DNA fica claro nas escolhas políticas que se naturalizam no decorrer da narrativa, seja pela escalação de negros em papéis que comumente não veríamos numa ficção passada num período vitoriano, ou mesmo a discussão sobre o patriarcado tão bem diluída entre os anseios românticos das personagens.
O viés “novela das seis” é tão competente que até as tramas paralelas (afinal, é uma história sobre famílias) funcionam bem, sendo responsáveis pelos bons ganchos ao final da temporada. Bridgerton é uma aposta fácil de Shonda, que já inicia sua nova fase profissional, provando saber fazer o simples, com a competência que lhe levou até aqui.