Ah, l’amour! O amor foi assunto de milhares, talvez milhões de filmes. Foi e é narrado em todas as suas variações e sobreviveu ao teste do tempo se adaptando às novidades. Se, no passado remoto do cinema, traição era terrivelmente punida ao final do filme, com o tempo as relações extraconjugais passaram por novas lentes, e nem sempre são condenadas. Pode-se fazer um filme torcendo para um casal assim, e é exatamente isso que acontece, embalado por um piano sentimental, em “Crônica de uma relação passageira”.
Simon (Vincent Macaigne), casado, e Charlotte (Sandrine Kiberlain), divorciada, se conhecem numa noite e trocam beijos e números de telefone. Passam a se ver com frequência durante alguns meses. Encontram-se no apartamento dela ou em território neutro, como hotéis ou o apartamento de um amigo de Simon. Até que decidem adicionar uma terceira pessoa, Louise (Georgia Scalliet) à equação. Perto dela, Simon se torna verborrágico enquanto Charlotte permanece calma. E essa decisão minará a relação até então fácil e pacífica do casal.
O sucesso de um filme como “Crônica de uma relação passageira” reside na força da performance dos atores. Macaigne e Kiberlain são veteranos que já ganharam diversos prêmios e elogios. Ele, nascido em 1978, conta com 71 créditos como ator no IMDb, começando em 1998, mais três como diretor e outros cinco como roteirista. Foi indicado a seis prêmios César, a mais recente indicação vindo justamente deste filme. Ela, dez anos mais velha, começou a carreira com pequenos papéis em 1986, sendo seu primeiro filme de destaque “Cyrano de Bergerac”, de 1990. Dirigiu um curta e um longa, que também escreveu. Foi indicada a nove Césars, ganhando o prêmio em duas ocasiões.
“Crônica de uma relação passageira” teve sua estreia mundial no Festival de Cannes de 2022 e a estreia brasileira ocorreu no mesmo ano no Festival Varilux de Cinema Francês. Muitos criticam o Festival Varilux por trazer filmes medíocres para as salas de cinema, e de fato este não é nenhuma obra-prima. Mas quem critica o faz do alto de seu privilégio: o festival é descentralizado e, apesar de ter sessões com elenco e equipe apenas no Rio de Janeiro e São Paulo, leva para outras cidades, muitas interioranas como a minha, filmes que de outra forma não chegariam a esse público, que recebe nos poucos cinemas de sua cidade só os blockbusters.
Como Simon diz perto do final, o que ele teve com Charlotte foi um parêntese – e parênteses, depois de abertos, necessariamente precisam ser fechados. Isso não impede que sentimentos aflorem e permaneçam. Muitas vezes o que vem escrito entre parênteses ressoa com mais força e por mais tempo do que o resto do texto. Esse foi o caso de Simon e Charlotte.
Comente!