Estamos tão acostumados com a tecnologia nas nossas vidas que mal podemos imaginar o caos que uma pane mundial em sistemas operacionais diversos poderia causar. Não estou falando somente do dissabor de ficar sem redes sociais, WhatsApp ou não poder ver aquela série viciante da Netflix. Estou falando de falta de comunicação entre aviões e torres de controle de tráfego aéreo, ou entre trens e suas centrais. Uma pane assim causaria milhares de mortes e caos generalizado. E é exatamente isso que dá o pontapé inicial para a minissérie “Dia Zero”.
Quando a pane generalizada acontece, os celulares de todas as pessoas recebem uma mensagem enigmática: “vai acontecer de novo”. Uma das vítimas é Anne, que estava logo antes em reunião com George Mullen (Robert De Niro), acertando detalhes para o primeiro rascunho da autobiografia dele, que é ex-presidente dos Estados Unidos. Ele acaba sendo tirado da aposentadoria pela presidente atual, Evelyn Mitchell (Angela Bassett), que o convida para encabeçar uma comissão de inquérito para investigar a pane. A filha dele, Alexandra (Lizzy Caplan), atualmente congressista, acha que o pai voltar da aposentadoria é uma péssima ideia.

Muito da minissérie é tirado da vida real. Teorias da conspiração são alimentadas por um YouTuber que tem seu estúdio montado no porão de casa. A oligarquia tecnológica está presente na figura de Monica Kidder, que teme que a investigação seja nociva para seu rol de produtos, incluindo aplicativos e redes sociais – pessoas como ela são chamadas na série de “bilionários sociopatas”. A diferença é que o primeiro grupo apontado como responsável pelos ciberataques, Os Ceifadores, é de extrema esquerda, quando os terroristas modernos são de extrema direita, como o grupo Proud Boys.
“Dia Zero” marca a primeira vez em que Robert De Niro protagoniza uma série, seja em televisão ou streaming. O ator vencedor do Oscar é também produtor executivo da minissérie e sem dúvida um chamariz para o público. Outros motivos para assistir à minissérie são a atualidade e importância dos temas tratados e a pesquisa por trás da produção.

A diretora de todos os episódios, Lesli Linka Glatter, trouxe de seu trabalho anterior, a minissérie Amor e Morte, o talento de Jesse Plemons, que interpreta Roger, assistente de George que é como um filho para o ex-presidente. Lesli, junto aos roteiristas, se baseou em entrevistas com especialistas em segurança e também no livro “Contagem Regressiva até Zero Day”, de Kim Zetter, além de filmes como “Sob o Domínio do Mal” (1962) e “A Conversação” (1974).
Uma reflexão que sobra após assistirmos à minissérie envolve nossa dependência de tecnologia, o que nos torna vulneráveis. “Dia Zero” é ótimo ponto de partida de conversas sobre essa vulnerabilidade, e ao mesmo tempo é uma lição de moral. Provavelmente não podemos voltar a viver num mundo mais analógico e menos digital, mas podemos planejar como será nossa defesa quando – e não se – o Dia Zero vier.
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