Luka Magalhães é o fôlego da Casa Amarela, espaço multiartístico nos extremos de São Paulo. Tornou-se poeta a partir da interação com outros escritores, músicos, cantores e admiradores da arte que construíram e mantém a estrutura da pequena e mítica casa em São Miguel Paulista, quase chegando em Guarulhos.
Como tal, sua vivência na literatura é substancialmente prática. Embora seja um leitor voraz, aprendeu no contato – e na palavra – o que é bom ou ruim em termos de poesia. Aprendeu conversando e ouvindo.
Resolveu escrever. Em seu ‘Ecos do Silêncio’, editado pelo conselho da organização artística da qual faz parte e ajuda a dirigir, erigiu um livro sobre as variantes do nada ouvir, do silêncio, do correr discreto que palavras e emoções estabelecem como meio de comunicação. Seu livro leva sim o selo Casa Amarela não por se tratar de um autor da região, conhecido de todos. O grande Akira Yamasaki, gestor da Casa, não é de agradar amigos quando o assunto é a qualidade da poesia.
Sua publicação obedece ao princípio da solidez da escrita e da necessidade. Era premente que sua poesia adquirisse concretude em livro impresso.
Luka é muito bom, contudo, o zelo excessivo ou a busca de fidelidade à métrica às vezes acaba sendo inimiga dos poetas contemporâneos como ele, e embora perca-se em alguns instantes procurando rimas fáceis em construções mais longas, são nos poemas curtos que o escritor encontra as melhores práticas para a sua linguagem:
“No silêncio
da tua boca
se fez minha poesia”
ou
“No silêncio urubus voam
entre as termais.
Sobre nossas cabeças
as sombras escoam
como meros animais.”
Ao valorizar o ritmo em deprimento dos enquadramentos rígidos da poesia acadêmica, liberto de amarras, Luka produz belos versos como esses:
“Quando tua boca
se fechar às palavras,
quando teu silêncio
cerrar na alma,
quando tua voz não ecoar
e o vazio do som nascer,
saiba que cada suspiro,
respiro,
cada balbuciar
me aviva
…
E sei que estás comigo”
Ecos do Silêncio traz uma poesia que merece e precisa ser lida, tem sua importância, e que não apagam seus erros – normais para uma iniciativa de edição de um ambiente que não é uma editora típica, mas uma casa referencial de cultura popular. Alguns poemas são desnecessários e soam pueris demais, não refletindo a grandeza de Luka. Uma seleção mais apurada os retiraria do livro, como o abaixo:
“De que vale estar no mar,
ouvindo as ondas a quebrar
se não temos como versar.”
Entre erros e acertos, sobram palmas para Luka, que além de poeta é ator, fotógrafo, cenógrafo, e tudo o que for necessário. Aplausos também para a Casa Amarela, instituto vivo de cultura mantido há anos por um grupo sólido de artistas, com vida orgânica e capaz de reunir a cada sarau os maiores e melhores nomes da nossa literatura.
Serviço:
Para adquirir o livro, entrar em contato com o autor, Luka Magalhães, pelas redes sociais. Para participar das atividades da Casa Amarela, basta seguir a página do organismo cultural e sentir-se convidado a aparecer nos debates, cursos e saraus divulgados.