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Flaming Lips aposta na experimentação em “Oczy Mlody”

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Quando o Flaming Lips anuncia um novo álbum já se espera que venha algo fora do convencional. Imagine como seria se a banda lançasse um disco inteiro de canções cantaroláveis. Seria no mínimo frustrante, não? Pois não ainda não foi desta vez. “Oczy Mlody” (Warner Bros/2017) é esquisitão, firme no propósito da banda de Wayne Coyne de desconstrução do pop. Afinal, o que se esperar de um grupo que lançou um disco quádruplo para ser ouvido simultaneamente em quatro CDs Players diferentes. Detalhe: o disco em questão, “Zaireeka”, foi lançado em 1997, quando o formato reinava como principal plataforma para se consumir música, mas ainda assim ninguém possuía quatro aparelhos.

No caso do novo trabalho (o décimo quarto de estúdio) nota-se uma clara influência do rock progressivo, muito mais no conceito do que na forma. O disco abre com a introdução viajante da faixa-título. A impressão que se tem é de estar ouvindo a parte de uma trilha sonora de filme de ficção científica. Todavia, ecos de Pink Floyd na fase Syd Barret também podem ser sentidos, não só na primeira faixa, mas no decorrer do álbum. Na sequência, vem a já divulgada ‘How??’ mantendo o clima etéreo.

A terceira faixa intitulada ‘There Should Be Unicorns’ sequer necessita de maiores explanações. O título fala tudo por si só (não se esqueçam que é o Flaming Lips, que fazia shows com bichinhos à La Disney no palco e vocalista andando dentro de uma bolha sobre o público). ‘Nidge Ni (Never No)’ finca os pés na música eletrônica sem parcimônia usando e abusando dos efeitos em cumplicidade com o som estéreo. Não é uma música essencial, queda-se mais no exercício de experimentação. A faixa seguinte, ‘Galaxy I Sink’, mantém a vibe de alquimia sonora, embora um pouco menos agudo que na anterior, com camadas pavimentadas por instrumentos de cordas.

‘One Night While Hunting for Faeries and Witches and Wizards to Kill’ (um conto de destruição e redenção com os irmãos Grimm!!!) já começa provocadora pela extensão do título (lembra até os das músicas do Tyranossaurus Rex de Marc Bolan). E de fato propõe uma provocação na sua constituição. Ela tem continuação direta em ‘Do Glowy’, que forma uma coesa (e azeitada) dobradinha. ‘Listening to the Frogs with Demon Eyes’ e ‘The Castle’, já no terço final do álbum, formam a porção mais acertada melodicamente.

Como a proposta do Flaming Lips aqui é ser contundente artisticamente, muitas das letras, como no rock progressivo, trazem temática existencial. ‘Almost Home’ versa sobre como o ciclo da vida pode se tornar um ciclo vicioso capaz de detruir seus sonhos de um mundo cheio de amor. O disco fecha com a para lá de inusitada colaboração da good girl gone bad Miley Cyrus. O resultado? Bem, uma letra que cita Jesus e espaçonaves vindo para cá, com uma participação especial improvável. Causar estranheza sempre foi a principal pauta da banda. E a música não destoa do tom que permeia as 12 faixas. A participação de Miley é apenas mais uma das pirações de Coyne.

Com “Oczy Mlody” o Flaming Lips realmente quis fazer um autêntico trabalho art-pop/rock. Melhor dizendo, uma obra de pop art sonora. Há alguns excessos, uma visível esforço de soar inovador sem êxito, visto que tudo o que se ouve ali já foi feito, experimentado e reciclado, mas ainda assim a proposta é válida. Wayne Coyne e Cia se mantêm firmes nas suas convicções artísticas e essa autenticidade é sua principal virtude. O lema parece mesmo ser vamos manter o Flaming Lips esquisitão.

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