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Guida Vianna na excelente montagem de "Agosto", de Tracy Letts

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Agosto (August: Osage County), do norte-americano Tracy Letts, deu origem ao filme Álbum de Família, que, em 2013, teve Meryl Streep no papel da protagonista e matriarca Violet, e agora ganha nova temporada no Rio, com direção e adaptação de André Paes Leme e tradução de Guilherme Siman, em que Guida Vianna interpreta brilhantemente a personagem.
A obra foi vencedora dos prêmios Pulitzer e Tony, e Guida Vianna foi indicada como melhor atriz aos prêmios Shell, Cesgranrio e Botequim Cultural, além de Letícia Isnard, que interpreta a personagem Barbara, indicada, por sua vez, como Melhor Atriz ao Prêmio Shell. Além das atrizes, a montagem traz ainda grande elenco, em que onze atores dividem o palco: Claudia Ventura (Karen Weston), Claudio Mendes (Charlie Aiken), Eliane Costa (Mattie Fae Aiken), Guilherme Siman (Charles Júnior), Julia Schaeffer (Johnna Monevata), Alexandre Dantas (Steve Heidebrecht), Marianna Mac Niven (Ivy Weston), Isaac Bernat e Paulo Giardini (revezando as personagens Beverly Weston/Bill Fordham), Lorena Comparato e Isabella Dionísio (revezando a personagem Jean Fordham).

O enredo gira em torno de uma família que se reúne após o desaparecimento misterioso do patriarca, trazendo as filhas da personagem Violet e suas respectivas famílias à casa onde a matriarca mora. Esse reencontro é a ocasião em que vêm à tona conflitos antigos e mal resolvidos, culpas pouco elaboradas, escolhas questionáveis, além de não-ditos que, enfim, passam à expressão verbal na mesa do jantar. Trata-se, o espetáculo, de um denso drama psicológico e familiar, em que dificuldades familiares nunca antes encaradas surgem no contexto de perda e mistério. Violet, que trata um câncer de boca e está viciada em remédios, não perde a oportunidade de falar tudo que lhe vem à cabeça, sem dar chance a interditos e censuras internas, e doa a quem doer. É assim que, a pouco e pouco, o encontro vai se tornando um divisor de águas para os personagens, alguns deles eternos prisioneiros de dívidas subjetivas supostamente impagáveis.
Apesar de alguns clichês que o texto de Tracy Letts traz e que tornam previsíveis alguns dos episódios (como a situação de quase “assédio” que acontece na segunda metade da peça), trata-se de riquíssima dramaturgia, em que encontramos inteligência nos diálogos, humor permeando os dramas (por sinal, indispensável para não tornar a peça extremamente pesada) e, finalmente, um dinamismo impecável na montagem ora examinada, em que a sobreposição de cenas simultâneas, acontecendo em diferentes espaços da história mas dividindo o palco ao mesmo tempo, desenvolvem-se como um balé sem que haja erros ou se torne confusa para o entendimento da plateia. Ao contrário, faz com que o espetáculo fique ainda mais interessante, tornando o espectador atento às diferentes interações que acontecem paralelamente, sem relação entre si, mas formando uma coesão textual digna de nota. É irretocável a direção de André Paes Leme nesse sentido, e todo o elenco faz um grande trabalho, mas não posso deixar de chamar atenção para Guida Vianna, que celebra quatro décadas de carreira, e também para Julia Schaeffer, que faz o papel da “índia”, como Violet a ela se refere o tempo inteiro, de modo sarcástico, e que é contratada para cuidar da casa e de Violet pelo patriarca, dias antes de seu desaparecimento.
No caso de Guida Vianna, há momentos do espetáculo em que o maior prazer é observar sua grande atuação, sua presença de palco, fortíssima, e o modo como defende a personagem. Apesar de ter visto, há poucos anos, Meryl Streep no cinema, que foi indicada ao Globo de Ouro como melhor atriz cômica em 2013 por esse papel, vendo a montagem brasileira, não há como evitar o pensamento de que não pode haver outra Violet que não a de Guida Vianna. Seu trabalho chega a emocionar. Todavia, também o personagem de Julia Schaeffer, Johnna, e a forma como a atriz o constrói são dois aspectos bem interessantes de Agosto. Johnna situa-se no polo oposto da dominação da personagem Violet e da energia que Guida Vianna emprega para interpretá-la.
Johnna abre e fecha o espetáculo: ela introduz a história, iluminada por uma singela luz antes de o drama começar, e está o tempo todo presente, circulando pela casa, obedecendo às ordens e pedidos dos familiares, mantendo-se silente e contida enquanto o extravasamento de emoções parece não ter fim e chega à agressão física depois de ter passado por todas as etapas imagináveis da agressão verbal. O interessante nesse personagem misterioso, que pouco fala e que instiga a curiosidade sobre os motivos que a levam a permanecer naquele trabalho, com aquelas pessoas, sendo insultada de modo indireto pela dona da casa e, ainda assim, mantendo uma forma cuidadosa de realizar suas tarefas, o interessante é que ela parece ter uma função também formal na dramaturgia. É como se ela o tempo inteiro organizasse a peça, as cenas, os atos, introduzindo, finalizando, dando a deixa para uma nova cena, enfim: é como se a peça só pudesse, de fato, existir, por sua causa, como se fosse sua preciosa atribuição a função de alinhavar as peças do quebra-cabeça familiar em que os demais personagens se encontram. E Julia Schaeffer, sem alarde, respeitando as características de Johnna, o faz de modo brilhante, séria sem deixar de exprimir afeto, com uma dicção perfeita, respeitando os espaços dos demais atores, como se incorporasse, em sua atuação, os atributos discretos de Johnna.
Enfim, para finalizar, uma menção à excelente cena do jantar que é, claro, a melhor de todas, em que a solução dramatúrgica que coloca todos os personagens em cadeiras posicionadas de modo oblíquo, com a matriarca no meio e a foto do patriarca desaparecido ocupando uma delas, é perfeita ao dar sequência ao dinamismo empregado em toda a montagem.
O espetáculo fica em cartaz até 4 de fevereiro.

Ficha técnica

Texto: Tracy Letts
Tradução: Guilherme Siman
Direção e Adaptação: André Paes Leme
Direção de Produção: Andrea Alves e Maria Siman
Idealização e Coordenação Geral: Maria Siman
Elenco: Guida Vianna (Violet Weston), Letícia Isnard (Barbara Fordhan), Claudia Ventura (Karen Weston), Claudio Mendes (Charlie Aiken), Eliane Costa (Mattie Fae Aiken), Guilherme Siman (Charles Júnior), Julia Schaeffer (Johnna Monevata), Alexandre Dantas (Steve Heidebrecht), Marianna Mac Niven (Ivy Weston), Isaac Bernat e Paulo Giardini (revezando as personagens Beverly Weston/Bill Fordham), Lorena Comparato e Isabella Dionísio (revezando a personagem Jean Fordham).
Diretor Assistente: Anderson Aragón
Coordenação de Produção: Leila Moreno
Produção Executiva: Fernanda Silva
Cenografia: Carlos Alberto Nunes
Figurino: Patrícia Muniz
Iluminação: Renato Machado
Música: Ricco Viana
Assessoria de Imprensa: Ney Motta
Projeto Gráfico: Mais Programação Visual
Fotografia: Silvana Marques
Midias Sociais: Rafael Teixeira
Apoio Cultural: Firjan /SESI
Realização: Primeira Página Produções, Sarau Agência de Cultura Brasileira, Ministério da Cultura, Governo Federal – Brasil Ordem e Progresso.

Serviço

Texto: Tracy Letts
Tradução: Guilherme Siman
Direção e Adaptação: André Paes Leme
Direção de Produção: Andrea Alves e Maria Siman
Sinopse: A peça mostra uma família disfuncional que se reúne depois que o pai desaparece, em um encontro de acerto de contas entre a mãe que se trata de um câncer e as três filhas que escondem pequenos e amargos segredos, inclusive de seus maridos.
Elenco: Guida Vianna (Violet Weston), Letícia Isnard (Barbara Fordhan), Claudia Ventura (Karen Weston), Claudio Mendes (Charlie Aiken), Eliane Costa (Mattie Fae Aiken), Guilherme Siman (Charles Júnior), Julia Schaeffer (Johnna Monevata), Alexandre Dantas (Steve Heidebrecht), Marianna Mac Niven (Ivy Weston), Isaac Bernat e Paulo Giardini (revezando as personagens Beverly Weston/Bill Fordham), Lorena Comparato e Isabella Dionísio (revezando a personagem Jean Fordham).
Local: Teatro Sesi Centro. Avenida Graça Aranha, 1, Centro, Rio de Janeiro (tel. 21 2563-4163)
Temporada: 11 de janeiro a 4 de fevereiro, quinta a sábado às 19h e domingo às 18h.
Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)
Funcionamento da bilheteria: Segunda a sexta, das 11:30h às 19:30h, sábados, domingos e feriados, a partir de duas horas antes do espetáculo.
Lotação do teatro: 338 lugares
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 120 minutos
Gênero: Comédia Dramática

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