Em Isso vai funcionar de alguma forma, temos uma dramaturgia coletiva, plural, feita por mulheres, interpretada por mulheres, dirigida por mulheres, construída de modo coletivo por mulheres, e cuja estreia se deu na semana do 8 de março.
Amanda Mirásci, Dominique Arantes, Mariana Nunes, Larissa Siqueira e Vilma Melo, sob a direção de Cristina Moura, Denise Stutz, Inez Viana e Rúbia Rodrigues e idealização e coordenação artística de Dominique Arantes e Rúbia Rodrigues, dividem o palco para trabalhar cenicamente questões atuais relativas a pertencer socialmente ao gênero mulher. O que é essa construção? Em que resulta sua desconstrução?
A cena de três mulheres sentadas à mesa, servindo e compartilhando uma refeição, é emblemática nesse sentido, pois remonta, de algum modo, àquilo que se diz delas (de nós) ou que se espera delas (de nós) ou, conforme a cena se desenvolve, do que não se quer esperar delas, de nós, as mulheres. As três, envolvidas na refeição, começam a se perguntar, em um looping aparentemente infinito, em um tom que vai do sussurro quase inaudível, difícil de desvendar inicialmente, ao brado brilhantemente desgovernado, o que aconteceria se elas gritassem. Esse é um dos elementos interessantes da peça, que, aliás, começa no mais absoluto silêncio embora prenhe de movimentos, até que a primeira frase se dê, em um discurso que coloca em questão tudo aquilo que é comportamento esperado e naturalizado por parte da mulher.
E, aliás, o silêncio tem muito lugar na dramaturgia proposta, mas também o grito, que, quando calha de acontecer, de mãos dadas com outras condutas supostamente loucas, é aquilo que pode fazer algum sentido e promover alguma libertação em meio a um turbilhão de silenciamentos e violências repetidas e banalizadas. Jogar o macarrão pro alto e rolar no chão será sempre considerado como mais maluco do que aquilo que se impõe cotidianamente à mulher, sem que ela queira, goste ou aprove.
Mas, ao propor formas de pensar o mundo em meio à complexidade de histórias que se interligam e que formam e informam cada pessoa, ao problematizar a conexão entre todos na construção do prédio em que o teatro está e onde a peça acontece, os materiais usados para que seus alicerces o mantenham de pé e todos os elementos presentes em cada existência, a dramaturgia de Isso vai funcionar de alguma forma aponta para mais além do gênero em questão. A peça trata, então, de vida. E de tudo o que a compõe, de forma interdependente.
Não se trata, o espetáculo, de uma dramaturgia linear e tradicional, mas de uma costura de cenas e discursos que sacodem o espectador, que requerem um esforço para que compreendam o que é dito através de leitura labial, que se espantem com a eloquência de uma comunicação que prima pelo não-verbal, que usa terra no cenário para provocar a reflexão sobre o protagonismo de cada um de nós naquilo que plantamos e no que podemos colher. Que traz impacto e consegue arrancar alguns risos. E que, sim, funciona de alguma forma.
FICHA TÉCNICA
Idealização e Coordenação artística: Dominique Arantes e Rúbia Rodrigues – Grupo BARKA
A partir das dramaturgias: “Licença” de Renata Mizhari; “Movimento Plantar” de Dominique Arantes; “Silência” de Keli Freitas e “Você tem medo de quê?/Não pode” de Daniele Ávila Small
Direção Cristina Moura, Denise Stutz, Inez Viana e Rúbia Rodrigues
Elenco: Amanda Mirásci, Dominique Arantes, Mariana Nunes, Larissa Siqueira e Vilma Melo
Direção de trilha sonora: Letícia Novaes
Iluminação: Daniela Sanchez
Figurino: Luiza Fardin
Cenografia: Mina Quental – Ateliê na Gloria
Assistente de Figurino: Julie Mateus
Assistente de cenografia: Ana Clara Albuquerque
Assistente de fotografia: Daniela Paoliello
Direção de Palco: Ana Paula Gomes e Mariah Valerias
Operação e técnico de Luz: Rodrigo Lopes
Operação de Som: Camila Costa
Cenotécnico: André Salles
Tradução em libras: JDL Traduções
Programação Visual: Elisa Riemer
Fotos e registros videográficos: Elisa Mendes
Assessoria de Imprensa: Bianca Senna – Astrolábio Comunicação
Mídias Sociais: Rafael Teixeira
Direção de Produção: Davi de Carvalho – Travessia Produções.
Produção executiva: Ártemis Amarantha, Jefferson Almeida e Tamires Nascimento – Tem Dendê! Produções
Assistente de Produção: Lucas Lins
Coordenação Administrativa: Davi de Carvalho
Assessoria Contábil: Jorge Chenkel – CVR Contabilidade
Assessoria Jurídica: Colen Advogados e Assistentes
Patrocínio: OI, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Lei de Incentivo à Cultura
Produção: Travessia Produções
Realização: Grupo Barka e Travessia Produções
Apoio Cultural: Oi Futuro