Há se a cidade fosse um concreto armado. Contra nós, seus ocupantes. Não haveria rompantes? De dor e náusea numa manhã nublada, em que um senhor de 89 anos definha na sua cama na beirada de Sampa. Há sinais de ecos ao não ecossistema desta cidade. Cuidado! Dizem que dos becos saem palavras secas que dizem mais do lugar do que mil-ilhas de informações acadêmicas.
No livro do poeta Leandro Rodrigues, “Aprendizagem cinza”, pela Editora Patuá, A linguagem é um cinzel ou uma foice que escava o não subterrâneo, a superfície esfolada pelos pró dejetos civilizatórios. Para ver o avesso da cidade, o poeta vai ao poço mais fundo das imagens onde o desejo e afasia andam moldadas por um esforço de pertencimento. Mas a cidade é cada um de nós? Pergunta o forasteiro. A cidade só pode ser seu círculo de laços, de abraços, como corpo que anda pela urbe à procura de alteridades, de encontros, mas há sangue e a visão turva,
O corpo de 89 anos tomba no chão de um apartamento.
Leandro esquadrinha as possibilidades de a escrita ser um avesso num pedaço de cerne e dela criar teias que emaranham sentidos como uma rede como uma malha de roupa que não vemos mais as tramas, as ligações entre os fios tece – lados. Tomado por um cuidadoso artesanato em afilar imagens cruas, em cruzar espaços e nomes anônimos à procura do predicar que personificam um tipo de ocupação. Não se trata de pintar a cidade de cinza. O percurso da poesia precisa de certa mancha que é o próprio recurso dela de erigir beleza. De extrair o recalque daquilo que está camuflado, escondido.