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Livro “Para o bem ou para o mal”, de Luiz Fernando Brandão

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O escrever é um ato lícito na composição de um mundo narrativo. E com cuidado, o jornalista, escritor e tradutor Luiz Fernando Brandão desenvolve em Para o bem ou para o mal,  publicado pela Gryphus Editora (2021), uma narrativa sobre destino, se estamos destinados, por sorte ou azar.

É o segundo livro de Brandão, sua estreia na ficção, em 172 páginas onde acompanhamos os destinos e peripécias de três personagens bastante prováveis na vida real. Em 39 capítulos esses personagens se entrelaçam sutilmente envolvidos numa jornada à mítica India. Sua narrativa trabalha com o contexto da segunda chance, do improvável, das fraudes que podemos entrar, de algo que está fora do nosso controle; um tratamento sobre a fragilidade do juízo humano que Brandão faz a partir desses protagonistas, ideia que o autor compôs após o atentado terrorista nas torres do World Trade Center, em 2001

Como o publicitário Washington Olivetto apresenta no prefácio que escreveu para o livro: como puro realismo de suas vivências para nos fazer refletir sobre nossa incapacidade de autoconhecimento, frente aos efeitos de nossos desejos, palavras e ações, sejam para o bem ou para o mal.

Personagens

O primeiro protagonista, Diego Velásquez Caravaca, o Flautista, um guru espiritual, bem-sucedido em São Paulo, que já ajudou várias pessoas, mas é um mercador da salvação, como tantos outros em nosso país. Seu apelido, vem do conto dos Grimm, que aqui ganha uma versão mais doentia, onde seu domínio não está em crianças ou ratos, mas sim em adultos, fáceis de cair no seu papo de ludibriador.

O segundo, Robert White Sherman, o Matemático, executivo financeiro de um grande banco dos EUA. Um gênio que em solidão, imerso nos números, variantes e derivadas, um talento natural que o levou a posição que se encontra no mercado. Uma celebridade milionária desencantada e se engaja numa incrível causa humanitária na Índia.

Por fim, temos Cátia Ferrão, a Cigana, é uma jornalista que passou por vários problemas no início da carreira (assédios), mas inteligente e ambiciosa acaba se tornando vice-presidente de assuntos corporativos de uma poderosa fabricante de químicos agrícolas e sementes transgênicas que tem no Brasil seu maior mercado.

Análise

Por motivos diferentes, como dito no início da matéria, cada um dos três vão parar na Índia. E nesse ponto, que Brandão acerta, ao desenvolver seus personagens, todos brasileiros, bem-sucedidos em suas áreas, mas que passam por um momento de inflexão. O autor, usa sua experiência como executivo de comunicação de grandes corporações para compor um retrato comum para seus personagens, um arquétipo para cada um: o carisma do Flautista e o poder da persuação, a perseverança da Cigana e sua ambição e a influência do Matemático e sua insensatez. De certa maneira, a narrativa gira em torno do poder que é exercido nas pessoas e nos seus destinos.

Indagações como ‘O que vai acontecer com os protagonistas e como suas histórias irão se cruzar sem que nunca tenham se conhecido?‘ levam os leitores a surpresas, como um bom roteiro de cinema e nas palavras do gênio da publicidade, Washington Olivetto: Sei que Luiz Fernando gosta do raciocínio de que seu livro propõe ‘uma reflexão sobre a relativa fragilidade do julgamento humano’, mas o que mais me encanta na história é deixar bem clara essa intenção para todo e qualquer tipo de leitor, dos mais relaxados até os mais tensos, dos mais simplórios até os mais pretensiosos.

Sobre o autor – O carioca Luiz Fernando Brandão é jornalista, escritor e tradutor. Em paralelo à carreira como executivo de comunicação empresarial, traduziu para o português obras de autores como Edgar Allan Poe, Jack London, Vladimir Nabokov e Tom Wolfe. É autor de Triptik, uma viagem na terra dos gurus e outras bandas (2017), seu livro de estreia, e tem diversos artigos publicados sobre comunicação. Em 1976, graduou-se instrutor no The Yoga Institute, em Mumbai, na Índia.Nota: Bom – 3 de 5 estrelas

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Por
Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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