Quando “Girls” estreou, lá pelos primeiros dias de abril de 2012, Hannah, alter ego de sua própria criadora, Lena Dunham, dizia que iria ser a voz de sua geração. Agora, após 6 anos e 60 episódios, Hannah comprovou que para além de voz de sua geração, seu universo refletiu a personalidade de seu tempo, ou seja, a voz, a face e a representatividade geracional passou pelos devaneios e elipses dessa série.
Cada vez mais descolada da referência geográfica nova-iorquina a la “Sex and the City”, “Girls”, que nada mais é que uma série sobre quatro amigas que sobrevivem na selva norte americana, pela perspectiva de seus dramas emocionais e conflitos pessoais, sem qualquer idealização glamourizada, foi uma série de personagens. Lena tem uma capacidade impressionante de humanizar personalidades, sem tipifica-los. Até mesmo por isso, o último episódio desagradou tanta gente. São trajetórias que vão de dentro para fora, não o contrário. E isso prescinde de catarses dramáticas.
As personagens amadureciam diante de nossos olhos, o que acabava por fazer todo sentido no andamento das histórias (o último episódio é todo em cima disso). E tinha o Adam (Adam Driver), talvez o personagem mais rico já escrito pela mente inquieta de Dunham. No fundo, Adam sempre foi o que melhor mimetizou as loucuras emocionais daquelas quatro personagens.
Lena tem uma percepção espacial muito interessante para se organizar dentro de suas criações de personagens individuais. E escrevia diálogos memoráveis. Essa última temporada foi amarrando os enlaces e encontros que as temporadas anteriores esboçaram, mas não de maneira clichê (de novo, cito o anticlimático último episódio que nem reúne as quatro protagonistas), mas sim dando voz ao processo de amadurecimento de suas crias. E como elas amadureceram. E como isso não significou mesmo finais felizes (o “final” da Shoshanna é muito isso).
“Girls” sempre foi uma série de vidas ordinárias dentro um cotidiano (esse sim) idealizado. Lena Dunham foi bem sucedida ao fazer disso uma série de seis temporadas vitoriosas. Dar adeus a essas meninas é triste, mas necessário. Não que ela tenha representado de fato, toda uma geração com sua obra. Apenas contribuiu para que essa geração seja conhecida por sua multiplicidade de vozes, diante de uma mundo tão cinicamente mudo. Adeus, Hannah, Jessa (Jemima Kirke), Marnie (Allison Williams), Shoshanna (Zosia Mamet), Adam, Elijah (Andrew Rannells), etc, etc…