O primeiro dia do festival Medio y Medio, que celebra a música hispano-americana e faz sua estreia no Brasil, teve a cantora Maria Gadú fazendo as honras da casa. Com ela estavam no palco do Circo Voador, no Rio de Janeiro, a catalã Sílvia Pérez Cruz e a veterana argentina Liliana Herrero. Em um show essencialmente acústico, houve o auxílio luxuoso do guitarrista violonista argentino Pedro Rossi. Tratava-se do show “Territórios”, que tinha como mote reforçar o valor da música produzida na América Latina.
Com uma carreira que se iniciou nos anos 60, Liliana ainda busca uma renovação da estética do folclore argentino, propondo uma forma de interpretação que transcenda as fronteiras. De fato a música de nossos hermanos é pouco ouvida por aqui, uma vez que, lusófonos que somos, acabamos por criar uma identificação até maior com a música estadunidense do que com a de nossos vizinhos. Daí, o show (e o festival como um todo) busca justamente essa reconexão.
Essa colaboração, que fez no festival sua estreia no Brasil, abriu com ‘Giros’, clássicos do argentino Fit Paes em uma releitura mais puxado para o regional do que para o pop rock da canção original. segunda música da noite também foi de um argentino, ‘Oración del remanso’, de Jorge Fandermole. Maria Gadú entrou com uma composição sua. ‘Axe a Capela’, enquanto Sílvia executou ‘Verde’. ‘Encontros e Despedidas’ foi a versão bilíngue da música de Milton Nascimento que ficou famosa na voz de Maria Rita. ‘Pequeño Vals Vienes’ que apareceu no setlist trazido por Sílvia. Trata-se do poema de Federico García Lorca que originou ‘Take This Waltz’ de Leonard Cohen, ganhando nova projeção com a cantora que se apropriou da melodia da música adornada de uma bossa catalã, constituindo uma bela versão. ‘Cucurrucucú paloma’ canção huapango mexicana também entrou no repertório, assim como ‘Baby’, de Caetano Veloso, eternizada na voz de Gal Costa, e ‘Romaria’. O bis com ‘Volver a los 17’ encerrou a noite.
Gritos de fora Milei foram entoados e alguns momentos e no final, em protesto contra o presidente argentino assumidamente de direita. Afinal, um festival que celebra a música latina não poderia deixar a resistência e a contestação de lado