O fato da Disney possuir algumas das marcas de entretenimento mais populares e seguidas em todo o mundo significa que são possuidores de muito material para explorar e que, de fato, estão encontrando uma veia nos documentários relacionados ao seu catálogo. Se olharmos encontreremos documentários sobre os parques, sobre o processo criativo do estúdio Pixar e particularmente em nossa análise, sobre o legado da Marvel.
‘Marvel 616‘ (Marvel’s 616) é uma docussérie antológica de oito episódios que revê diferentes tópicos em torno da Casa das Ideias, desde suas origens até sua influência e até mesmo passos raros, mas famosos. Oito diretores, oito temas diferentes e um documentário fascinante em todos os sentidos.
Trailer
Análise
O Homem-Aranha Japonês (The Japanese Spiderman)’ é o episódio encarregado de abrir a docusserie. Uma escolha incomum, mas que funciona para mostrar como a Marvel Comics penetrou nos mercados internacionais. David Gelb (Renascida do Inferno, 2015) explica totalmente como e por que essa versão do cabeça-de-teia foi criada; em um episódio que poderia muito bem ter sido um refugo de Filmes que Marcam Época (The Movies that Made Us) por causa de como a narrativa é apresentada.
E uma vez que o interesse do público é capturado, os episódios seguintes abrem as portas para a editora. Em Mais alto, mais longe, mais rápido, a atriz Gillian Jacobs (série Community, 2009-2015) faz uma arqueologia para falar sobre o papel das mulheres nos quadrinhos e as pioneiras da Marvel: heroínas, desenhistas e roteiristas. É curioso, mesmo que seja um assunto conhecido, a história dessas mulheres que que caíram naquele mundo masculino.
Um tributo inesperado a figuras como Marie Severin e Mary Jo Duffy, conversas com Louise Simonson e Ann Nocenti comentando casos engraçados e, no presente, ver Sana Amanat e seu trabalho como editora com o capitão Marvel de Kelly Sue DeConnick e Marvel de G. Willow Wilson.
No Holofote, o episódio dirigido pela atriz Alison Brie (série Community), se concentra em uma escola fazendo produções de duas peças por meio do programa de teatro Marvel Spotlight, que oferece peças para escolas que apresentam personagens da Marvel – no caso, a Ms Marvel e a Garota Esquilo.
Vemos um pouco da turbulência e angústia que as crianças passam ao fazer seu show, preocupando-se com suas performances e o que pode dar errado.
O episódio de Paul Scheer, Achados e Perdidos, é sobre personagens mais obscuros da Marvel e o que leva ao sucesso, como aconteceu com Rocket Racoon e Groot. Além diso é clara a intenção cômica na descoberta de super-heróis como US-1.
O que torna este Marvel 616 ainda mais interessante é a mudança que encontramos a cada episódio. Disney + realmente aproveita os diferentes diretores e diferentes temas para oferecer diferentes experiências a cada edição. Em substância e forma.
A abordagem do documentário surpreende, por se afastar das grandes franquias da Marvel e do Universo Cinemático dos Vingadores para dar uma olhada na base da pirâmide. E nessa pirâmide que encontramos os roteiristas, ilustradores e editores cujas histórias povoam os locais que vendem quadrinhos.
Com oito episódios, é inevitável que haja alguma irregularidade se compararmos cada episódio. Mas é mais uma irregularidade no olhar de quem vê – se um assunto não lhe interessa, o episódio correspondente torna-se um pouco árduo.
Resumindo, Marvel’s 616 é um documentário empolgante que recompensa tanto os leitores de quadrinhos ao longo da vida quanto aqueles que abordaram o mundo dos super-heróis de outra forma (filmes, cosplay etc.). Uma delícia para o nosso geek interior.
Nota: Ótimo – 3.5 de 5 estrelas