Lançado em 1996, o álbum “Roots” do Sepultura se tornou uma das obras lapidares do metal não só no Brasil, mas no mundo. O sexto trabalho de estúdio da banda mineira radicada nos Estados Unidos – e que se tornou um dos maiores produtos brasileiros de exportação junto com Pelé e a Bossa Nova – constava em praticamente todas as listas de melhores discos daquele ano feitas pela imprensa especializada. Foi um ousado passo ao romper as fronteiras do metal adicionando elementos de batidas tribais, gravando com os índios xavantes e até com a Timbalada de Carlinhos Brown, o que na época seria encarado como uma heresia por qualquer metal head.
O show no Rio de Janeiro na noite de ontem (5), no Sacadura Cabral 154, que vem se tornando o point metal na zona portuária da capital fluminense, faz parte da turnê “Return to the Roots”, em que os ex-líderes do Sepultura, os irmãos Max e Iggor Cavalera continuam celebrando os 25 anos do icônico álbum. Como era de se esperar, o público presente era formado por fãs do Sepultura original, ou Sepultura raiz, fazendo uma relação com o título do disco em questão.
Quando Igor deixou o Sepultura, em 2006, fez as pazes com o irmão, fazendo parte de alguns shows do Soulfly, banda de Max na época, e os fãs tiveram duas metades do Sepultura clássico para seguir.
De fato, ouvir ‘Roots Bloody Roots’ com o vocal original de Max e a bateria de Igor abre um largo sorriso no headbanger. E foi esse clássico que abriu a apresentação de 1h40, que trouxe as faixas de Roots na primeira metade, e uma festa metaleira mais despojada na segunda.
Seguindo a ordem do disco vieram ‘Attitude’ e ‘Cut-throat’ e ‘Ratamahatta’, acompanhadas efusivamente pelo público. Definitivamente, o antigo Sepultura estava ali, vivo diante dos olhos dos fãs.
As rodas de pogo eram intensas e devidamente incentivadas por Max. No meio de ‘Lookaway’, o vocalista e guitarrista pediu para que todas as luzes da casa fossem desligadas e que ficassem apenas as luzes dos celulares. A faixa contou com snipets de ‘War Pigs’ do Black Sabbath (também popular com o Faith No More) e ‘Territory’ do Sepultura.
‘Istari’ foi o momento em que a bateria de Iggor ganhou todos os holofotes, com o desconcertante solo reproduzido com a intensidade da versão do Sepultura. Max lembrou de Chico Mendes antes de executar a faixa ‘Ambush’, composta em homenagem ao seringueiro morto em 1988. Claro que, em se tratando de um show de metal, não deveriam faltar os gritos de “ei, Bolsonaro, vai tomar…”.
Para a segunda etapa, Max anunciou que seria zoeira, sem ensaio. A banda de Max e Iggor conta com o guitarrista mexicano Dino “Asesino” Cazares, ex-Brujeria. Daí, incluíram no repertório ‘La Migra’, um clássico da banda que é um dos pilares do metal latino. Na sequência veio mais revival com covers de Sepultura como ‘Troops of Doom’ (com o guitarrista Jairo Guedz, ex-Sepultura e atual líder da banda de mesmo nome da música, que fez o show de abertura da noite), ‘Escape to the Void’ e ‘Refuse/Resist’; e também músicas de outras bandas que foram incorporadas ao repertório da banda mineira – ‘Polícia’ dos Titãs e ‘Orgasmatron’ do Motörhead. E até Raul Seixas foi lembrado para quem na plateia pensasse em gritar “toca Raul”, com ‘Sociedade Alternativa’.
Além de toda a celebração, com uma plateia que parecia querer provar que o mito de que o metal no Rio está morto é balela, houve um problema técnico rapidamente contornado no meio do show, e também uma certa provocação de Max que em alguns momentos incitava a plateia a gritar “verdadeiro Sepultura”, e quando Jairo estava no palco reforçava que aquele era o Sepultura original.
Uma versão mais acelerada de Roots encerrou a apresentação que buscava, não só comemorar um quarto de século do disco como festejar a fase em que os irmãos eram os cabeças da banda de metal brasileira mais famosa do mundo. E deixar claro para os saudosos daquela fase que, se uma reunião da formação clássica é improvável, o projeto de Max e Iggor é um refúgio certo.
Fotos: Patrícia Moura
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