Gente rica faz coisas estranhas. Como um jantar de ensaio na véspera do casamento. E tudo fica mais interessante quando coisas estranhas acontecem nestes eventos, como o fato de a madrinha do casamento, melhor amiga da noiva, aparecer morta boiando à beira-mar. Este é o ponto de partida da minissérie “O Casal Perfeito”, mais um produto do filão “tragédias ocorridas em paraísos com os podres de ricos”, da qual já fazem parte séries de sucesso como “Big Little Lies” e “The White Lotus”. Se depender de suas antecessoras, a nova minissérie já nasceu um êxito.
A vítima é Merritt Monaco (Meghann Fahy), melhor amiga de Amelia (Eve Hewson), que está prestes a se casar. Investigando o crime está a detetive Nikki Henry (Donna Lynne Champlin). Em busca de pistas, ela vasculha a imensa propriedade da família Winbury: o patriarca Tag (Liev Schreiber) é um milionário entusiasta da cannabis, enquanto a matriarca Greer (Nicole Kidman) é escritora. Eles têm três filhos e convidaram um curioso grupo para as bodas. Todos são suspeitos.
Duas personagens coadjuvantes interessantes são a empregada estrangeira Gosia e a amiga da família Isabel Nallet, interpretadas respectivamente por Irina Dubova e Isabelle Adjani. Gosia é a empregada enxerida, que sabe quase tudo de seus patrões e julga os convidados, por exemplo, falando da estranheza de um deles arrumar sua própria cama. Isabel é mais que amiga da família, já que se envolveu romanticamente com pelo menos dois homens dos Winbury.
Há uma grande presença feminina por trás de “O Casal Perfeito”. A criadora e co-roteirista é Jenna Lamia, atriz de “Resident Alien” e prolífica narradora de audiobooks, trabalho que já lhe garantiu alguns prêmios. A fonte para a minissérie é o livro de Elin Hildebrand. A direção de todos os episódios fica a cargo da dinamarquesa Susanne Bier, cujo filme “Num Mundo Melhor” (2010) ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. De lá para cá, ela transita entre países, e entre cinema e TV, sempre com sucesso. “O Casal Perfeito” é seu segundo trabalho com Nicole Kidman, depois da minissérie da HBO “The Undoing”.
A ação acontece em Nantucket, que é um condado em Massachusetts. Fundado em 1691, foi durante muito tempo destaque na indústria baleeira, tanto é que é citado no romance “Moby Dick”. Hoje é mais um local de férias de luxo. Elin Hildebrand vive em Nantucket e a maioria de seus romances é ambientada no condado.
A clara inspiração é Agatha Christie, a Rainha do Crime, que teria completado 134 anos no último dia 15 de setembro. Expoente num gênero que ficou conhecido como “whodunit” (“quem cometeu” em tradução livre), Christie escreveu 66 romances, nem todos de mistério, é verdade, e foi ela própria protagonista de um mistério quando desapareceu sem deixar rastros durante 10 dias em 1926. Em “O Casal Perfeito”, Greer escreve livros de mistério, à moda de Christie, e lançará o mais recente logo depois do casamento do filho que, pelas circunstâncias, teve obviamente de ser cancelado. Assim como Greer tem a dupla de investigadores Dash e Dolly, Christie tinha Tommy e Tuppence, além dos mais famosos Hercule Poirot e Miss Marple.
A abertura com todo o elenco dançando é um deleite à parte. A moda dos flashmobs assombrou quem teve de fazer um na escola ou no trabalho nos idos de 2012/2013. A ideia não agradou à maioria do elenco, com muitos inclusive ameaçando chamar seus advogados. O único que não só aceitou a obrigação de bom grado, mas mostrou-se animado com a dança, foi Liev Schreiber.
Não há nada de inovador em “O Casal Perfeito”. Como quem segue uma fórmula de sucesso, a minissérie segue suas predecessoras. Para os mais dados ao mistério em suas diversas apresentações – cinema, literatura, TV – fica fácil chegar à pessoa culpada e defender seu título de Sherlock Holmes ou Hercule Poirot. É uma divertida imersão, e não procure mais que isso.
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