Patos e Baleia – Moby Dick adaptado para os quadrinhos Disney

Existem livros, os chamados clássicos da literatura, que cada vez que são lidos, ou relidos, em diferentes épocas da vida de cada um, sempre acrescentam novos insights e diferentes sensações à experiência de leitura.

Uma das melhores apresentações de leituras clássicas são os quadrinhos e quando usam personagens conhecidos então, fica melhor ainda. Há mais de cinquenta anos os estúdios Disney da Itália vem pegando esses clássicos e adaptando-os, criando paródias, fazendo-os interpretados por personagens do universo Disney e assim tornando-os célebres para os pequenos leitores.

Acreditamos que boa parte de nossos leitores já leram algum clássico adaptado com personagens Disney. Entre os mais recentes é a de um clássico com o qual a nona arte se cruzou várias vezes, uma obra que, apesar de mais de 150 anos de vida, é sempre atual e oferece vários níveis de leitura e significado: Moby Dick, por Francesco Artibani e Paolo Mottura, lançado ano passado pela Panini, no selo Graphic Disney.

Sinopse

Depois de ter seu navio destroçado e sua moedinha da sorte levada pela gigantesca baleia branca, Tio Patinhas (Capitão Quakhab) lança-se ao mar em busca de vingança. Para tanto, ele conta com uma tripulação corajosa e… mais ou menos competente formada por Donald, Peninha, Pardal, Gansolino, Huguinho, Zezinho e Luisinho, além de alguns tipinhos suspeitos.

Análise da Adaptação

Artibani, como roteirista mantendo-se fiel às principais linhas narrativas do romance de Herman Melville, desenvolve uma história em que equilibra a ironia, a leveza e os personagens típicos dos quadrinhos Disney, com momentos de tensão e medo, ação e reflexão, raros nesse tipo de histórias, o que torna esta adaptação uma das mais bem-sucedidas do gênero.

Tendo em mente as várias adaptações que a arte sequencial deu a Moby Dick, começando pela escola americana e Bill Sienkiewicz, passando pelos mestres europeus como o italiano Dino Battaglia ou o francês Christophe Chabouté; através de um conto de Bone ( Jeff Smith), sem esquecer, é claro, do clássico Mickey Mouse e o Monstro Bianco de Floyd Gottfredson e Merrill DeMaris, Artibani concebe uma narrativa original, que não se enquadra no que outros autores utilizaram.

Criando algo novo, graças também ao resgate de algumas características que os personagens Disney envolvidos tiveram nos primeiros dias de sua existência e que foi se esmaecendo e desaparecendo ao longo do tempo.

Olhar para com os personagens clássicos

Auxiliado por um Paolo Mottura mais do que inspirado e aprimorado pelas cores de Mirka Andolfo, a história oferece o papel principal ao Tio Patinhas (Capitão Quakhab), que interpreta um Ahab de memória Barksiana, eliminando o lado irônico, leve e divertido do personagem e trazendo à tona os traços de caráter certamente não agradáveis ​​do personagem McDuck.

O protagonista é acompanhado por Ismaele (Pato Donald), o narrador da história, a quem o roteiro dá os vários momentos hilariantes que quebram a tensão dramática de algumas sequências, mas também algumas reflexões mais sérias sobre o sentido da narrativa.

Artibani recupera então a relação de tensões e até confrontos violentos que Donald teve, no início de sua carreira editorial, com seus netos, aqui intérpretes de Huqueg, Duqueg e Luqueg, filhos do chefe da ilha de Kovolovo, homólogos da adaptação para Queequeg, o arpoador indígena do romance de Melville.

Os irmãos Metralhas então encontram espaço nos papéis dos arpoadores do Pikuod (Pequod no romance original), Maga Patológica como o adivinho sombra de Ahab, Professor Pardal oomo  primeiro oficial Starkbuck (Starbuck ), Peninha como segundo imediato Stump (Stubb), segundo imediato e Gansolino no papel de Flatch (Flask), o oficial de alimentação do navio. Infelizmente, esses três últimos personagens perdem quase completamente seus traços característicos que sempre os distinguiram nas histórias da Disney.

Paolo Mottura adere perfeitamente às orientações de Artibani, evitando desdobramentos horizontais dos quadros que poderiam lembrar a HQ de Gottfredson e De Maris, ou quadros livres e sem grade como as de Sienkiewicz. Em vez disso, graças a tomadas cinematográficas sem precedentes, o desenhista desenvolve as perspectivas forçando e distorcendo o cenário do navio, com o pano de fundo da maior parte da história, o oceano.

Outro aspecto que chama a atenção é o formato da edição (21,5 x 33 cm): as ilustrações de Mottura se beneficiam do tamanho maior e as sugestivas splash-pages se destacam mais do que no formato menor.

Final

E o aparecimento tardio da baleia branca, da Moby Dick, que em grande parte da história é apenas uma sombra ou uma perturbação física de um sopro dágua ou de um olho, mais uma vez liga a história original onde a presença física do mamífero é sempre evocada, mas nunca de maneira material, exceto no final, significando seu papel como símbolo de uma obsessão.

O final, com uma homenagem dentro de outra a um clássico da animação Disney como Pinóquio e com a resolução dos vários nós narrativos pela revelação das características Disney de personagens como a Maga, os arpoadores e Ahab, é o epílogo perfeito de uma história que combina perfeitamente um clássico da literatura com uma história clássica da Disney.

Nota: Excelente – 4 de 5 estrelas

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