Toda história até pode ser continuada, mas raras são as que realmente precisam. Big Little Lies chegou como quem não quer nada, com sua visão um tanto incômoda e até sombria do cotidiano ordinário de um grupo de amigas tipicamente “housewives” de Monterey, na Califórnia.
A narrativa consistente do livro original de Liane Moriarty ajudou, mas a linguagem impressa pela direção de Jean-Marc Vallée e o entendimento das atrizes para com seus papéis, fizeram com que a série ganhasse uma adesão surpreendente até para a HBO.
O sucesso e a consequente repercussão, obviamente chancelaram uma segunda temporada, que foi muito aguardada, especialmente pela presença de Meryl Streep. O que isso significou? Bem, as atuações de Nicole Kidman (até pelo bom arco de evolução de sua personagem), Streep e Zoe Krävitz acendem ainda mais a voltagem dramática da trama reinventada. E Laura Dern rouba todas as cenas com a histeria de sua Renata frente a decadência financeira de seu marido (e responsável pelo maior volume de memes da série).

Quanto a história, é bem perceptível que os roteiristas trabalham bem com a substancialidade de suas personagens. Isso é inegável. Mas a justificativa dramatúrgica dessa continuidade é frouxa o bastante para praticamente não acontecer nada em 4 dos 7 episódios.
E mesmo esse enfoque eloquente nos personagens – o gestual franzino de Meryl contrastando com seu cinismo e a dinâmica de reconstrução do casamento da personagem de Reese Witherspoon são exemplos sólidos – não exime a história de uma clara incapacidade de conseguir aglutinar a trama de todos os personagens, o que sacrifica até uma certa tensão social muito presente na primeira temporada e aquela sensação sempre presente de que algo maior está para explodir na aparente calmaria suburbana daquelas vidas.
Algo desse resultado pode ter a ver com a treta interna pelo fato da HBO ter entregue todo o material gravado, agora pela diretora Andrea Arnold para Vallée remontar (com casos até de refilmagem). Talvez. Mas a questão se explica até bem antes disso: toda história até pode ser continuada, mas raras são as que realmente precisam. A segunda temporada de Big Little Lies não precisava. Por mais que ficar por mais um ano com suas personagens e novas companhias, não tenha sido necessariamente ruim.








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