Tive uma surpresa enorme ao descobrir que um romances históricos mais legais das últimas décadas estava sendo adaptado para a televisão. A obra em questão é o Rei do Inverno, primeiro livro da série literária As Crônicas de Artur, de Bernard Cornwell. Assim como o sucesso de Game of Thrones, os produtores batizaram a série com o título do primeiro livro, The Winter King (O Rei do Inverno, no Brasil), talvez esperando repetir o sucesso da HBO.
Quem esperava uma adaptação de qualidade se decepciona logo de cara. A série passa muito longe da obra original e comete os mesmos erros de tantas produções modernas, que no intúito de agradar uma minoria barulhenta da sociedade, descarateriza completamente a magia da obra original.
Ao contrário de The Last Kingdom, que buscou alguma fidelidade às Crônicas Saxônicas de Cornwell, esta adaptação da MGM podia ter utilizado qualquer outro nome que não faria nenhuma diferença – talvez seria até melhor, visto que não se queimariam com os fãs da obra original.
O escritor Bernard Cornwell é reconhecido pelo tratamento histórico de suas obras, conseguindo com enorme sucesso ambientar o leitor em distintos períodos históricos, retratando de forma bastante convincente as aventuras e perrengues de seus personagens.
As Crônicas de Artur, como o nome indica, contam uma história alternativa às principais lendas do mitológico Rei sob o ponto de vista de Derfel, que através de suas memórias leva o leitor à magia de Avalon e dos primeiros dias da cristandade no que hoje é a Grã Bretanha, que dividida em diversos reinos lutava com seu passado mágico e também com as invasões dos povos nórdicos. Temos aí todos os ingredientes para um grande sucesso, infelizmente nada disso aparece na série The Winter King.
A nova série da MGN lembra mais uma produção adolescente de Hollywood, forçando a barra em modificar a história para criar uma diversidade étnica que agrade os executivos, políticos e minorias atuais. Ainda mais quando a realidade história neste caso faz toda diferença e o termo ‘idade das trevas’ não foi cunhado a toa. Trata-se de um período onde os valores e conhecimentos da antiguidade clássica foram perdidos e o que sobrou era muito preconceito, medo e fanatismo. Dentro deste período a xenofobia era uma grande questão, e os povos humanos retratados na série se matavam por mera questão de sobrenome, se unindo somente quando a xenofobia falava mais alto. Britânicos, galeses, saxões e outros povos europeus passaram sua história guerreando entre clãs, reinos, religiões, aparência e muito mais. É literalmente bizarro que a série busque apagar todas estas tensões históricas em nome da diversidade, não somente por descaracterizar a obra original, mas também removendo qualquer possibilidade de contar uma história crível.
O que torna o mito de Artur tão poderoso é o misticismo de Avalon, uma terra que ainda guardava uma magia ancestral numa época de perseguição e invisibilidade religiosa. Me recordo enquanto lia as obras originais de literalmente torcer para que esta magia tivesse existido, numa esperança infantil que o mundo ainda guardasse segredos longe da razão humana. Já em The Winter King, Avalon parece mais uma comunidade hippie de pessoas que estiveram no festival Woodstock, completamente deslocados não somente da obra literária, mas de qualquer bom senso histórico.
Todo apelo da série é jogado no lixo cena após cena. Mas os problemas vão além apenas da falta de fidelidade à obra, ou mesmo histórica, pois a produção mais lembra uma novela da Record: os cenários são ruins, a fotografia é ruim, a direção é precária e não sabe contornar qualquer adversidade financeira e artística. É uma cena pior que a outra e, mesmo fazendo algum esforço para buscar algo positivo na adaptação, não consegui encontrar nada.
Trite mesmo! Melhor buscar a (re)leitura da obra literária.