Filmes de relacionamentos – e não necessariamente românticos – são uma expertise perdida pelo cinema brasileiro. O mesmo cinema que já contribuiu mundialmente para o “gênero” com exemplos como Eu Sei Que Vou Te Amar (1986), de Arnaldo Jabor e Pequeno Dicionário Amoroso (1996), de Sandra Werneck, mas que hoje raramente parece querer investir no tema, pelo menos de maneira mais adulta.
Nos últimos anos, uma leva de filmes que buscam compreender as complexidades emocionais à dois, tem ganhando espaço, como esse primeiro longa de ficção de Joana Mariani, Todas As Canções de Amor.
A trama acompanha dois casais separados pelo tempo, mas unidos por um apartamento e uma fita cassete. Ao se mudarem, nos dias atuais, Ana (Marina Ruy Barbosa) e Chico (Bruno Gagliasso) encontram uma fita repleta de canções que marcaram o relacionamento de Clarice (Luiza Mariani) e Daniel (Julio Andrade), nos anos 90, e que acabará influenciando também a relação a história que construíram juntos.
Como o título sugere, as canções – numa produção musical acertada de Maria Gadu – pontuam esse paralelismo que o roteiro procura manter.
Enquanto um casal vive os revezes do desgaste de uma casamento de 6 anos, o outro, a euforia e sedimentação de um início de vida à dois. O filme se passa praticamente todo dentro de um mesmo apartamento que emoldura a gama de emoções que os conflitos geram. O casal do passado, em construção dramática e química cênica. é bem mais desenvolvido e orgânico, tendo os melhores diálogos e possibilidades de assimilação.
O roteiro nem sempre dá conta da complexidade que se propõe como reflexão do tempo e modo de relação, uma vez que a personagem da Marina entra numa obsessão quase forçada num contexto de comentário emocional dessas relações. Mas para além disso, Joana faz um filme interessante e interessado, sobretudo pela perspectiva musical como elemento dramático. Isso funciona muito e nos faz abraçar a história.
Uma sacada muito bem pensada é terminar o filme com uma versão de “I Will Survive“, como que se saíssemos da questão afetiva como sobreviventes, o que faz muito sentido.
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