Lucas Castor, escritor e fotógrafo nascido em Brasília (DF), lançou “Cavalo” no final de 2022. O romance discute dilemas do homem contemporâneo e complexidades da masculinidade, utilizando uma narrativa que entrelaça passado e presente. A obra, finalista do Prêmio Mozart Pereira Soares em 2023, acompanha a jornada de Carlos, um homem de meia idade, servidor público estagnado. O protagonista forma relações precárias com as mulheres de sua vida, ao mesmo tempo que enfrenta os desafios do envelhecimento e da impotência sexual. A dualidade temporal na narrativa proporciona ao leitor uma visão abrangente da vida de Carlos e torna a leitura dinâmica e envolvente. A história se passa em Brasília, cidade que é também uma personagem importante da obra. Um espaço tão presente adiciona uma camada de complexidade e autenticidade à trama.
Além de sua obra literária, Lucas Castor é graduado em Antropologia pela Universidade de Brasília e atualmente cursa um mestrado em Escrita Criativa na Universidade de Coimbra. Sua escrita, segundo ele próprio, transita entre o realismo mágico e o contemporâneo. Lucas, que vive entre a Suíça e Portugal, também se dedica à fotografia autoral e comercial. Lucas está interessado em temas que são deixados à margem do discurso dominante.
Quais são os temas centrais do livro “Cavalo”?
Masculinidade, violência, impotência e envelhecimento.
O que motivou a escrita do livro? Como foi o processo de escrita?
Cavalo surgiu de uma frase. Eu morava em Barcelona há pouco tempo e passava pelo meu primeiro inverno digno do nome. Estava triste e a ponto de terminar um relacionamento. Do nada, e nem me lembro de quando, exatamente, uma frase surgiu, intrusa: É possível cavalgar um cavalo sem um cavalo. Honrei-a e comecei a escrever. Primeiro um conto, que depois se transformou no romance.
O processo de escrita foi longo, entre 2017 e 2022. O livro passou por duas leituras críticas e várias reescritas. Tenho a impressão de que ainda está por terminar (um livro acaba?).
Quais são as suas principais influências literárias?
Em prosa, José Saramago, Haruki Murakami, Fiodor Dostoievski, Isabel Allende, Amos Oz, Roberto Bolaño, Daniel Galera, entre outros. Em poesia, Sylvia Plath, Ferreira Gullar, Manoel de Barros, Paulo Leminski, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade.
Quais livros especificamente?
São vários, vou listá-los aqui: Os irmãos Karamazov, de Fiódor Dostoiévski; A caverna, de José Saramago; Crônica do pássaro de corda, de Haruki Murakami; Barba Ensopada de Sangue, de Daniel Galera; A noite da espera, de Milton Hatoum; A caixa preta, de Amós Oz; e A interpretação dos sonhos e O mal estar da civilização, de Sigmund Freud.
Escreve desde quando? Como começou a escrever?
Poesia, comecei a escrever na adolescência, depois de perder um amigo numa morte trágica. A minha poesia é ruim, por isso não publico. Já prosa, comecei no inverno de 2017, quando morava em Barcelona. Primeiro escrevi contos, e depois transformei um desses contos em romance. Hoje, me considero um romancista.
Como você definiria seu estilo de escrita?
Um meio-caminho entre o realismo mágico e o realismo contemporâneo.
Como é o seu processo de escrita?
Devo meu processo de escrita a José Saramago. Ainda novo, quando fazia graduação na UnB, assisti ao documentário José e Pilar, de Manuel Gonçalves Mendes, que relata de forma simples e direta o cotidiano e a escrita de Saramago. Em uma das cenas, ele diz que há décadas escreve duas páginas por dia.
Foi revolucionário ver um grande escritor lidando com a escrita de uma maneira pouco idealizada; tratando o que fazemos como mais uma profissão.
Roubei dele e adaptei um pouco. Quando estou trabalhando em um romance, escrevo de segunda a sexta-feira, um capítulo por dia (o que de fato dá, em média, duas páginas). Aos finais de semana vou fazer outra coisa.
Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Tomo café da manhã, preparo um chá e vou ao escritório. Meu cachorro, Murilo, está sempre deitado debaixo da mesa. Paro antes do almoço e só retomo no dia seguinte.
Quais são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí?
Já terminei meu segundo romance, Azul, e estou inscrevendo-o em concursos de originais. Nos últimos meses, tenho escrito contos, para conciliar a escrita com as atividades do mestrado. Pretendo começar um novo romance no segundo semestre de 2024.