O maior nome da história do pugilismo brasileiro demorou para ter sua trajetória contada em um filme. A vida de Eder Jofre traz todos os contornos que o cinemão gosta. Coube ao diretor José Alvarenga Jr. a tarefa de levar o nosso mito dos ringues para a telona em “10 Segundos Para Vencer” (Brasil/2018) em uma produção caprichada e um ótimo elenco.
A história de Eder se configura como um típico conto de gata borralheira. Por isso cabe tão bem no cinema. Se não fosse baseado em fatos reais, poderiam até dizer que foi uma tentativa de se fazer um “Rocky” à brasileira. A trama narra o percurso “Galinho de Ouro” desde a infância difícil no bairro do Peruche, em São Paulo até conquistar o cinturão mundial e entrar para a galeria do boxe como o maior peso galo da história.
O pai do lutador teve um papel fundamental nessa jornada, e quem dá vida a Kid Jofre é Osmar Prado em uma atuação tocante. O veterano ator, um dos melhores atores brasileiros vivos, dá o peso e a dramaticidade exata ao papel. É redundante dizer que é o melhor em cena. A escolha de Daniel de Oliveira para o papel do protagonista deixa dúvidas se não houve uma glamorização no casting. Isso costuma ocorrer, sobretudo no cinema nacional, quando vemos um biografado ser retratado com um rosto mais bonito (ou seria televisivo?) do que o da vida real. No caso aqui, a intenção fica gritante, a despeito do talento de Daniel – que aqui faz um trabalho apenas correto. É mais uma biografia na carreira do ator, que viveu Cazuza no cinema.
Alvarenga Jr. deixa nítido o quanto abraçou o projeto, com uma direção emotiva, embora em muitos momentos fique a um fio da pieguice e escorrega em alguns clichês. Amparado por uma bela direção de fotografia (uma das melhores vistas no cinema nacional recente), ele entrega cenas bem acabadas sempre valorizando o seu elenco. As emendas de imagens de arquivo às cenas que integram o longa é outro acerto.
“10 Segundos Para Vencer” pode incomodar por sua retidão narrativa. E como toda cinebiografia há floreios para tornar a história mais “cinematográfica”. As cenas de luta se constituem da intensa troca de socos que não se vê nos ringues de verdade, mas que o cinema não abre mão em prol do espetáculo. Se há semelhança com o supracitado Rocky a resposta é sim. Assim como “Touro Indomável”, outra referência do boxe no cinema. É praticamente inevitável fugir dessas referências. Tecnicamente impecável, o filme ficará mesmo marcado pela brilhante atuação de Osmar Prado.