Prepare-se para entrar no louco mundo de Abel e Gordon. Dominique Abel e Fiona Gordon são como o Wes Anderson da Bélgica, só que abraçando ainda mais a bizarrice. Fazendo um cinema que se propõe a ser uma ode às comédias slapstick de outrora – predominantemente da era muda do cinema – a dupla mais uma vez serve o prato de sempre em “A Estrela Cadente”.
É por causa de uma impressionante semelhança física – nada surpreendente, afinal, trata-se de dois personagens interpretados pelo mesmo ator, Dominique Abel – que Dom precisa assumir o lugar do bartender Boris no bar A Estrela Cadente. O que Tim (Philippe Martz) e Kayoko (Kaori Ito), que organizaram e executaram a troca, não sabiam é que Dom tem uma ex-esposa que é detetive particular, apesar de um bocado atrapalhada.
Há alguns momentos verdadeiramente hilários, como o resgate da ambulância com cortes de orçamento, as consequências da soldagem para o homem de braço mecânico e a declaração de Boris, ao ser seguido por uma multidão, de que “a culpa não é deles, eu sou muito carismático!”. A maior parte da comédia física fica por conta de Fiona Gordon, que escala o portão do cemitério e entra nos carros pela janela, isso até mesmo em carros que não lhe pertencem.
Dominique Abel é belga, enquanto Fiona Gordon nasceu na Austrália. Trabalhando desde 1980 em um estúdio que é uma fábrica abandonada em Bruxelas, eles garantem que, apesar das inspirações no passado, “A Estrela Cadente” é um filme sobre o aqui e agora: “Cada vez que abrimos a porta podemos ouvir um apelo: um mundo sem consciência está destruindo o mundo”.
A maioria das situações do filme parecem ter saído de uma sessão de brainstorm de loucuras no qual estava decretado que não haviam más ideias. Mas há. Na era muda do cinema, à qual certamente é feita uma ode, não era raro que os filmes, em especial os de curta-metragem, fossem gravados sem roteiro, apenas com uma munição de gags (situações cômicas) criadas na hora. Mas enquanto nossos antepassados cinematográficos escolhiam só as melhores gags para seus filmes, Abel e Gordon parecem aceitar toda e qualquer gag para seu filme.
Abel e Gordon tentaram em “A Estrela Cadente” ser tão esquisitos que se tornam adoráveis. Eles já conseguiram este feito em um filme anterior, “Perdidos em Paris”, mas graças ao ar de protagonismo assumido por Emmanuelle Riva em um de seus últimos papéis. O slapstick exige alguma suspensão de descrença, mas o que eles pedem para que façamos aqui já é demais. Abel e Gordon podem ser mestres da comédia pueril, mas falham ao tentar inserir elementos do noir em seu filme. Até para bobagens – e principalmente para elas – deve haver limites.