A grandeza lúcida de “As Sessões”

Quando se diz que a vida real é bem mais interessante que a ficção, não é algo assim como força de expressão. É fato. As Sessões é um recorte dessa certeza e seu resultado não poderia ser mais satisfatório. Não só pela natureza da trama (um tanto improvável para nós, conservadores, latinos) mas pela destreza um tanto iconoclasta da direção em se fazer tocante e até fabular.

Baseado num artigo de Mark O´Brien, o filme nos apresenta esse sujeito que contraiu poliomielite, ou paralisia infantil, e passou a vida inteira numa maca com o corpo imóvel. Mas isso não o impediu de viver, e Mark com a ajuda de uma maca elétrica, similar às cadeiras de rodas elétricas, se formou na faculdade, e se tornou um poeta.

Com alguma sensibilidade no corpo inteiro, o protagonista apenas não consegue ter o controle sobre seus movimentos. Apesar de viver sozinho, Mark precisa de uma acompanhante para viver. Após alguns incidentes envolvendo excitação devido a sua ultra sensibilidade, ele decide que é hora de ter sua primeira relação sexual, aos quase 40 anos de idade.

Mark então conhece os serviços do departamento de psicologia sexual de uma universidade, contratando assim uma profissional conhecida como substituta sexual. Tem-se então a presença luminosa de Helen Hunt, que com seu delicado trabalho, vai restabelecendo a normalidade sexual e social do “paciente”.

TheSessionsPosterPT

O diretor Ben Lewin, também responsável pela adaptação do texto, estabelece bastante honestidade diante da propensão sentimentalista de seu filme. Desde o humor involuntário até a relativização da condição dramática de seu protagonista, tudo no filme acaba indo para uma assimilação bem desromantizada do contexto de penalização de um homem sem suas funções básicas de sobrevivência. Isso é um diferencial que torna seu resultado tão agradável e efetivo.

Helen, que anda fazendo falta com sua leveza cênica, entrega uma inteligente interpretação ao instituir dignidade à sua polêmica profissão e John Hawkes merecia reconhecimento maior por seu (muito bem defendido) papel. No fim, nem é (como aparenta ser) um filme para chorar, mas muitos podem acabar se emocionando justamente pela lucidez da experiência vista. Algo que o cinema americano maistream pouco se propõe a mostrar.

[xrr rating=4/5]

 

Sair da versão mobile