Uma das maiores fixações ensejadas pelo universo dos super-heróis de histórias em quadrinhos é a questão da evolução. De diferentes formas e desinências, o tema sempre povoa as histórias e, principalmente, as justifica. Pois foi sobre as faces dessa propriedade que pensei ao assistir dois emblemáticos filmes (superproduções) do gênero: Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge e O Espetacular Homem-Aranha.
Christopher Nolan encerra sua trilogia (iniciada em 2005 com o correto Batman Begins) impondo sobre sua alegoria uma reflexão sobre o tempo presente de seu território. Não existe super poderes que altere os (des)caminhos sócio-políticos de uma nação, principalmente uma nação tão paranoica quanto Gothan/EUA, que sofre as consequências de ressentimentos passados, sempre de cunho imperialista. Nolan e o roteirista David Goyer estruturaram o roteiro pela perspectiva do caos iminente para logo fazer o conflito principal de seu “herói” ser muito mais espacial do que suas motivações e traumas pessoais desencadeantes no primeiro filme. Até Batman evoluiu, para assim, salvar o mundo dele mesmo. Se assistirmos os três filmes de uma só vez, veremos isso. Ainda que o “circo dramático” em volta mude ou obedeça a cartilha de um tipo de dramaturgia (com seus vilões magistrais), é o homem por trás da máscara que interessa a Nolan. E é nesse confronto ideológico que resultou uma das melhores trilogias de todos os tempos.
Já em O Espetacular Homem-Aranha, esse processo é inteiramente equivocado. Diria até que não se deve assisti-lo depois do (verdadeiramente) espetacular “Batman”. Que desnível! Ok, o filme não é ruim, mas também não se justifica. Qual a razão de se fazer uma nova versão se não traz nada de novo? A trilogia anterior, de Sam Raimi, não só redefiniu o próprio universo como o gênero, e ainda sem estabelecer maneirismos estéticos que sobrepusesse a própria história. Marc Webb até inseriu seus elementos “indies” na constituição da humanidade de seu spider, conseguindo de Andrew Garfield um “homem” até mais interessante que o de Raimi. Mas quando o filme parte para o “mito”, a coisa vai para uma banalidade tão violenta que acaba por tornar a superprodução inexplicavelmente descartável. Até seu vilão não difere em nada dos bizarros que ilustram os “Power Rangers” da vida…
Independente de gêneros, o que dá alguma consistência ao audiovisual é seu caminho dramático, e como o faz para justificar seu discurso. Batman foi se descobrindo e se desconstruindo para refletir a verdade de sua fantasia. O novo Homem-Aranha arriscou buscar uma nova identidade, mas se prendeu demais a parâmetros do “mais do mesmo”, acabando por retroceder em seu papel de pioneirismo ao dar alguma dignidade ao gênero. Quanto vale a evolução para além de um recurso de uma trama de fantasia? Para Batman, valeu sua própria posteridade. Para Homem-Aranha, a discussão nem foi validada.
Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge [xrr rating=4.5/5]
O Espetacular Homem-Aranha [xrr rating=2/5]