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Abraço de Mãe busca desafiar o espectador

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“Abraço de Mãe” é um daqueles filmes que são um verdadeiro deleite para youtubers de cinema que angariam audiência com aqueles vídeos de “final explicado”. De fato, o suspense que chega à Netflix (merecia cinema) deixa alguns pontos de interrogação que desafiam o espectador. Não é aconselhável que se assista com interrupções – dê preferência à TV e não a celular e tablet.

Visivelmente inspirado na obra de John Carpenter, o filme se passa em um dia chuvoso do verão de 1996, no Rio de Janeiro, quando uma tempestade real vitimou 200 pessoas e deixou mais de 30 mil desabrigados na capital fluminense. Uma equipe do corpo de bombeiros recebe um chamado para um endereço de um casarão que corre risco de desabamento. Chegando ao local, a major Ana (Marjorie Estiano) se depara com uma situação intrigante: quase ninguém ali deseja ser salvo. Daí se desenrolam estranhos acontecimentos que se relacionam com um trauma da bombeira.

A direção do diretor argentino Cristian Ponce é bastante acertada ao criar o clima de suspense, com uma chuva constante que acentua a atmosfera de terror. Ponto para a fotografia da dupla Franco Cerana Leandro Pagliaro, que ampara adequadamente a lente de Cristian.

Fica claro desde o início que a trama vai se delinear como um survival horror, embora demore para que entendamos exatamente em que circunstâncias. O roteiro faz uma brincadeira de adivinhação com quem assiste, com se estivesse testando o seu conhecimento a respeito do gênero. O problema é que, justamente por isso, a narrativa se atrapalha um pouco, demorando para haver um pleno desenvolvimento, que não comprometeria o longa se fosse dado de maneira mais objetiva, e até mesmo deixando alguns furos pelo caminho. Fora o fato que, algumas pontas soltas dão a entender que pode haver uma continuação, que ainda não se sabe se acontecerá.

Marjorie Estiano parece ter se tornado sinônimo de cinema nacional de gênero após “As Boas Maneiras”. E mais uma vez ela nos proporciona uma atuação satisfatória, no tom exato, construída de forma bastante semelhante à das heroínas e surviving girls que vemos nos clássicos estadunidenses como “Halloween” e “Alien”. Também merece destaque o trabalho de Javier Drolas, argentino como o diretor. Embora não fuja da concepção clássica do personagem misterioso, compõe de forma envolvente, cumprindo com a função de despertar a curiosidade e a confusão do espectador.

Os efeitos especiais são convincentes, mostrando que esse não é mais um obstáculo para as produções nacionais. São efeitos digitais sutis, alguns práticos que estão a serviço da trama, e não de forma gratuita para exibição de domínio técnico.

Por fim, “Abraço de Mãe” é um bem-vindo filme de gênero, que, por ser dirigido por um argentino tem tintas do cinema de terror argentino ou mexicano, o que não é um demérito, muito pelo contrário. Esse intercâmbio com países latino-americanos com mais experiência na área (pelo menos de forma mainstream) é bastante benéfico. A produtora Lupa Filmes procura se distanciar do acento gringo e apresenta até mais personalidade nesse do que em “O Rastro” (2017). Agora é esperar pelas próximas produções, ou, quem sabe, uma sequência.

Abraço de Mãe

Abraço de Mãe
7 10 0 1
Nota: 7/10 - Ótimo
Nota: 7/10 - Ótimo
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