O 11º filme do Universo DC traz o anti-herói Adão Negro (Dwayne “The Rock” Johnson) para as telas de cinema. Como nos quadrinhos seu antagonista era o herói Shazam (ou Capitão Marvel, para os mais velhos), sua origem é mudada aqui, tanto para afastar o personagem do rótulo de vilão, como também para tirar algumas amarras que haviam sido criadas nesse universo.
A história começa no passado, apresentando Teth-Adam, o campeão de Kahndaq (cidade ficcional da DC), um escravo que combatia o rei tirano de sua época quando ambos acabam desaparecendo. Nos tempos atuais, a pesquisadora Adriana (Sarah Shahi) está à procura da coroa de Sabbac, um artefato místico. Ao encontrá-lo, ela é detida pela Intergangue (grupo criminoso de alta tecnologia que domina atualmente a região de Kahndaq). Em seu desespero, a moça acaba libertando Teth-Adam, com todos os poderes que o antigo campeão possuía. A situação se complica e alguns membros da Sociedade da Justiça (Gavião Negro, Sr. Destino, Esmaga-Átomo e Ciclone) acabam sendo convocados do exterior para lidar com o problema.
Esse embate se desenrola de forma problemática, podendo ser interpretado de formas diferentes pelos espectadores, de acordo com sua posição política. Se você for mais progressista, pode analisar as situações do filme como sendo uma crítica à maneira como a política é feita nos principais países do mundo, principalmente nos EUA, que só intervém em nações nas quais possuem interesses próprios, negligenciando apoio ou intervenção direta em outras regiões em crise. Já se você for de uma corrente mais conservadora, pode interpretar as atitudes de Teth-Adam como a melhor forma de fazer política, ou seja, agindo na base da violência e não demonstrando nenhuma piedade com seus inimigos. Essa mensagem conservadora, nos dias de hoje, torna-se bem perigosa. Resta a dúvida sobre qual foi a intenção dos roteiristas. A redenção do personagem ao final da história mal é percebida – se é que ela existe, pois ele não deixa de usar a violência como seu principal instrumento de argumentação. Essa mensagem se torna ainda mais perigosa se considerarmos o quão popular é o astro The Rock, e o quanto as pessoas nos dias de hoje são cada vez mais suscetíveis a interpretar de forma errada os filmes e séries.
Sobre o filme em si: Johnson está à vontade com o personagem, que não exige muitos momentos dramáticos do ator. A sua caracterização está bem-feita e é importante observar que Adam por raras vezes pisa no chão, mantendo-se sempre flutuando até mesmo quando está parado. Essa é uma de suas marcas principais. Como o rumo do Universo DC está sempre sofrendo alterações, a escolha da pessoa que irá convocar a Sociedade da Justiça para o conflito pode chamar a atenção e até causar um certo estranhamento no público. Entre os membros da Sociedade, Pierce Brosnan dá o toque sofisticado e esnobe que Kent Nelson/Senhor Destino exige; enquanto Aldis Hodge dá ao seu Cartel Hall/Gavião Negro uma petulância e intransigência que funciona muito bem; já os personagens Esmaga-Átomo e Ciclone, apesar de terem poucos momentos em tela, são divertidos.
A estética de Adão Negro nos remete de leve ao Snyderismo, apresentando diversas cenas em câmera lenta (muitas delas sem propósito, como é comum ao estilo), mas com uma fotografia mais aberta, embora o escuro ainda predomine. Só que aqui conseguimos enxergar os personagens, entender o que eles estão fazendo em cena e até suas lutas, diferentemente do que acontecia nos primeiros filmes da DC, nos quais as cenas eram tão escuras que muitas vezes não entendíamos que estava acontecendo em tela.
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