“Álbum de Família” é um filme de atores. De atrizes, melhor dizendo. O trabalho de Merryl Streep, Julia Roberts, Juliette Lewis, Julianne Nicholson e Margo Martindale é fenomenal.
Adaptado de uma peça de teatro, os diálogos são consistentes e o ambiente concentrado em praticamente um lugar apenas, a casa da família Weston. Essa aparente simplicidade de recursos parece ter trazido duas coisas, a concentração de energia voltada para as intenções das personagens e uma cara de filme da HBO, bem feito, porém, não completamente moldado para o cinema.
Tudo acontece quando o patriarca de uma família de Oklahoma desaparece por alguns dias. As três filhas de Violet (Merryl Streep) se reúnem em sua casa para ajudar neste momento de crise. O clima é carregado.
Conhecemos então as três irmãs: A irmã Blanchet, Karen Weston, que prefere viver uma ilusão, ao enfrentar a dureza da solidão.
A irmã Santa, Ivy, Weston, que depois de muitos anos se sacrificando para tomar conta dos pais, resolveu finalmente tomar conta de sua vida.
A irmã Juíza, Barbara Weston, dura e determinada, que por mais que tenha tentado se afastar do universo materno, se vê cada vez mais refletida nos trejeitos e modo de agir insensível da mãe.
Todas as personagens são falíveis. Umas mais do que outras, e o que me interessa como espectadora é a capacidade do roteirista de colocar tantas personagens antagônicas, ligadas pelo sangue, em um mesmo ambiente, presas por uma falta, por um vazio. São os conflitos que surgem e as verdades que vêm à tona, gerando desconforto revelado por qualquer silêncio indesejado. A vida é cheia de situações como essa, em que estamos numa mesa de jantar e temos que manter a postura ao ouvir algo que não gostamos ou quando alguém que amamos nos trata mal e ficamos divididos entre nos aproximarmos ou aumentar ainda mais a barreira do orgulho.
Todas essas personagens carregam o peso da mágoa de anos de desaforo e sofrimento calado de viver sob o mesmo teto que um pai alcóolatra e uma mãe viciada em remédios. A dor, o sofrimento, a rejeição, a amargura e o ressentimentos são as emoções que reinam nesta família.
O grande problema do filme de John Wells é não deixar o espectador respirar, e trazer à tona problemas e questões sem intervalos para sentirmos algum tipo de alívio ou harmonia. Chega um momento em que o mal estar se acumula de tal forma, que os conflitos parecem forçados, indiscriminadamente escritos para nos fazer sofrer.
O momento que me parece definir o conteúdo do filme é um pequeno discurso de Juliette Lewis, logo antes de partir, quando diz à Julia Roberts: “O mundo não é preto e branco. As coisas estão no meio, onde estamos todos nós, menos você.”
Aí fica claro que o pedestal de moralidade construído por Barbara (Julia Roberts), a irmã mais velha, criou justificativas para se achar melhor que os outros. Melhor do que sua mãe drogada, sua irmã submissa, sua irmã iludida e estúpida, seu marido traidor e sua filha inconsequente.
Assim como ela, sua mãe havia há muito tempo construído um muro à sua volta quando decidiu que, depois de tanta violência e sofrimento na sua infância, seria a mais forte da família. E no intento de tornarem-se ideais, tornaram-se impiedosas e insensíveis.
Em resumo, um filme de ótimas atuações com uma pitada demasiada de tristeza que acaba se distanciando da realidade fílmica capaz de gerar reflexões no espectador, mas que, se pensado em momentos isolados, nos traz mais perto da tal emoção estética que tanto procuramos.
“Álbum de Família” está concorrendo ao Oscar nas categorias Melhor Atriz para Meryl Streep e Melhor Atriz Coadjuvante para Julia Roberts.
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