Começa a chegar o final de ano e os grandes filmes dramáticos começam a surgir nos cinemas norte americanos. É o chamado período de filmes do Oscar, quando as grandes produtoras lançam suas maiores cartadas na luta por colocar um filme entre os indicados aos principais prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. “Álbum de Família” é mais um esforço em prol dos prêmios de melhor atriz para Julia Roberts e Meryl Streep em um filme de drama excessivo e que luta para ser sério demais a ponto de cansar o espectador.
O filme é bom, não memorável. As atuações são ótimas, mas exageradas e cansativas, especialmente porque as reações explosivas promovidas, especialmente pelas duas atrizes principais, advém de fatos absurdos e que forçam o espectador a aceitar que durante algumas noites tudo aquilo poderia acontecer.
Bem, o leitor deve estar se perguntando porque eu ainda não falei da história do filme. Digamos que a pessoa mais prudente do filme morre logo no começo. Com a morte do pai da família Weston (Sam Shepard), as filhas e a família se reúnem e logo começam a surgir todos os problemas acumulados por anos, desencadeados pela matriarca, Violet (Meryl Streep), viciada em remédios para dor devido a um câncer na boca, que cutuca a tudo e a todos, trazendo a tona anos e anos de rusgas e brigas familiares.
A partir daí a mesa de jantar e a casa da família se tornam palcos para peças calamitosas, cheias de drama, sarcasmo, ofensas e lavação de roupa suja, por demais vista em outros filmes e cansativo a ponto deste começar a querer saber quanto faltava para acabar. Em 2011, Roman Polanski adaptou para as telas de cinema a peça de teatro “Le Dieu du carnage” de Yasmina Reza, intitulado por aqui como “Deus da Carnificina”. Ali se via situações envolvendo dois casais totalmente distintos, restritos a um apartamento em que os diversos problemas que cada um tem vem a tona de forma natural e fluída, não forçada por uma matriarca louca e chapada de drogas.
As irmãs, interpretadas por Julia Roberts (Barbara), Julianne Nicholson (Ivy) e Julliet Lewis (Karen) são no mínimo totalmente distintas e exageradas cada uma da sua maneira e de forma proposital, para criar os devidos contra pontos entre as personagens. Barbara vive um momento conturbado no casamento com Bill (Ewan McGregor, desprezado) e com a filha adolescente Jean (Abigail Breslin, desperdiçada). Ivy sempre foi a filha esquecida, a que nunca fez nada da vida e continua agindo desta forma. Karen é a que mais aprontou loucuras na vida e está noiva de Steve (Dermot Mulroney, um perfeito cafajeste, como sempre).
O filme cria as situações de conflito de forma a tentar levar o espectador a crer que todas aquelas crises poderiam ser concentradas em apenas alguns dias entre a morte do pai e as grandes discussões que irrompem de dentro do lar das Weston. Por incrível que possa se parecer, quem melhor escapa do filme é Chris Cooper, que interpreta o tio das mulheres, cunhado de Violet. Sua atuação demonstra que ele não tem lugar naquele ambiente inóspito e está incomodado. Seu filho, Little Charlie (Bennedict Cumberbatch, sem razão de estar aqui a não ser pelo prazer de dizer que já trabalhou com o restante do elenco) é o maior exemplo de personagem colocado no filme apenas para ser usado como peça de drama e isso é feito aos montes durante todo filme, surgindo situações, eventos e diálogos com a clara e total intenção de chocar e criar conflitos, sem qualquer resolução.
O grande problema do filme é a direção, frouxa e desligada, do diretor John Wells, acostumado a produzir seriados americanos, não soube tocar um elenco estelar, convocado para ser coadjuvante de luxo e tentar carregar Julia Roberts e Meryl Streep a mais um Oscar. Infelizmente o filme é mais fraco do que a crítica especializada quer tentar fazer transparecer e as atuações de ambas as atrizes não valem sequer menção na lista de candidatas ao Oscar, porém, a fama e o medo de alguns em falar mal de duas grandes atrizes vai continuar impulsionando este filme em direção a lista final de candidatas. É uma pena ver que os oportunismos hollywoodianos continuam a prevalecer e um filme que teria tanto a falar foi trocado por um dramalhão especialmente feito para tentar sensibilizar o público.
[xrr rating=2/5]
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