“Alice e Peter Onde Nascem os Sonhos” reforça o lúdico como refúgio da áspera realidade

Tramas em que a fantasia funciona um abrigo contra as vicissitudes da vida real, ainda mais sob os olhos das crianças, não são exatamente novidades. Enquanto elas sonham, os percalços pressionam os adultos que as cercam. Mas suas capacidades de imaginar as tornam blindadas e até conseguem servir como suporte para os frágeis adultos. “Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos” se pauta nesse mote reimaginando uma origem dos personagens Peter Pan e Alice (do País das Maravilhas).

Na trama, a menina de oito anos Alice (Keira Chansa), seu irmão travesso Peter (Jordan A. Nash) e seu brilhante irmão mais velho David (Reece Yates) encontram terreno fértil para a imaginação em um verão feliz no interior da Inglaterra.

No faz de contas incentivado pelos seus pais Jack e Rose (David Oyelowo e Angelina Jolie), lutas de espadas e aventuras em navios piratas chegam a um fim abrupto quando ocorre uma tragédia. Após o evento traumático, Peter acha que deve provar que é um herói para seus pais em sérias dificuldades financeiras, viaja com Alice para Londres, onde eles tentam vender uma preciosa herança para salvar as finanças da família.

Em muitos momentos, é inevitável a comparação do longa da diretora Brenda Chapman com o excelente “Em Busca da Terra do Nunca”, em que Johnny Depp interpretava o criador de Peter Pan em contato com a família que inspirou sua obra mais famosa. Nesse aqui focaram em uma família mestiça, em que a própria constituição étnica já se reveste como mola propulsora para o imaginário descercado.

Mas a novidade para por aí. O desenvolvimento não se difere muito de outras tramas que propõem paralelismo entre o fantástico lúdico e o opressor mundo real. E em diversos momentos a mensagem fica um pouco confusa. Afinal de contas, é um filme de origem? É apenas uma inspiração? É difícil visualizar a proposta de redefinição da história dos dois maiores ícones da literatura fantástica.

A escolha do elenco se mostra adequada, com atores mirins bastante convincentes que conseguiram captar corretamente a essência dos personagens. Angelina Jolie e David Oyelowo têm seu brilho natural, mas é perceptível que houve entrega para compor seus personagens.

Brenda dirige o longa com retidão, mas amparada por um trabalho de fotografia que realça os momentos lúdicos, da mesma forma que acentua o tom sombrio dos momentos dramáticos. Por mais que seja um caminho um tanto óbvio, é procedente dentro da temática. De fantasia ela entende bem. Foi codiretora de “Valente” e “O Príncipe do Egito”, além de argumentista de “A Bela e a Fera” original e supervisora de argumento da versão clássica de “O Rei Leão”.

“Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos” acerta na temática, por mais que não seja original, e na parte técnica. Um pouco mais de clareza nas intenções deixaria o resultado mais satisfatório e atingiria um público mais amplo, podendo até abrir margem para uma nova série cinematográfica em um universo fantástico, aproveitando que o posto deixado por Harry Potter ainda se encontra vago.

Nota: Bom – 3 de 5 estrelas

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