Num dos momentos de “Amor Pleno“, uma voz em off declama; “a vida é um sonho. Não há o que errar…”.
O enigmático e recluso diretor Terence Malick faz de seu mais novo filme uma alegoria dessa afirmativa. Sua dramaturgia, digamos, ensaística, agora mira a relatividade do amor romântico e em paralelo, acampa suas fixações religiosas sobre fé e perdão.
Em linhas (bem) gerais, o romance apresenta um homem descontente com a vida (Ben Affleck) que viaja para Paris e inicia relação amorosa com uma europeia (Olga Kurylenko). Os dois voltam para os Estados Unidos e se casam. A relação se desgasta e ele encontra uma antiga namorada (Rachel McAdams) e inicia um novo romance. Paralelamente a isso, acompanhamos as angústias existenciais de um padre (Javier Barden). Essas linhas gerais expressam o viés sempre lacônico de Malick.
Plasticamente o filme é de uma beleza estonteante, algo já demonstrado no belíssimo trailer, mas a (minha) questão com Malick é que sempre seus filmes se propõem mais filosóficos que dramatúrgicos, o que nos confere uma reflexão mais distanciada de suas propostas.
“Amor Pleno”, título oportunista para o lacônico “To The Wonder” (original) que incorpora a liberdade de se crer que a vida é mesmo um sonho. Nela pode ser e fazer o que quiser. Malick cria seus universos com a liberdade que o cinema de linguagem lhe dá. Às vezes, sua pretensão se universaliza (como no melhor filme de guerra do cinema americano “Além da Linha Vermelha“), porém, seus últimos filmes se ressentem de um sentido para além de suas próprias percepções.
[xrr rating=2/5]