“Angry Birds: O Filme” faz uma boa transposição dos games para o cinema

Dá para contar nos dedos de uma mão os filmes inspirados em vídeo games que conseguiram ser, no mínimo, assistíveis. A grande maioria fica entre o fraco e o medíocre, pois parece que diretores, produtores e roteiristas não conseguem entender como e por que certos jogos eletrônicos funcionam e criam fãs de diversas faixas etárias pelo mundo, e nem como fazer com que eles consigam ser bem adaptados o suficiente para que divirtam também na tela grande, sem trair os “princípios” pelos quais foram criados.

Felizmente, isso não acontece com “Angry Birds: O Filme” (“The Angry Birds Movie”), que transpõe de maneira bem sucedida o joguinho que fez (e ainda faz) bastante sucesso em computadores, smatphones e tablets, com uma história bem simples e objetiva, mas que também expande o universo criado pela Rovio com novos detalhes e faz um bom entretenimento para crianças dos 7 aos 70 anos.

O filme mostra uma ilha habitada por aves que não sabem voar e, mesmo assim, a maioria de sua população vive feliz e contente com suas vidas simples e comuns. Mas há alguns pássaros que têm problemas de se relacionar com a comunidade, como Red (Jason Sudeikis na versão original e Marcelo Adnet na versão dublada), que não consegue lidar bem com a sua raiva e é visto pelos outros como esquisito.

Ele acaba sendo obrigado a fazer uma terapia comandada por Matilda (Maya Rudolph/Dani Calabresa) e faz amizade com Chuck (Josh Gad/Fabio Porchat), uma ave hiperativa, e Bomba (Danny McBride/Mauro Ramos), que, como o próprio nome diz, explode quando fica muito emocionado.

Um dia, chega à ilha uma embarcação cheia de porquinhos verdes, liderados por Leonardo (Bill Hader/Guilherme Briggs), que são muito bem recebidos pelos emplumados, apesar da desconfiança de Red. Os suínos, na verdade, estão de olho nos ovos que existem na ilha e, após roubá-los, conseguem escapar. Cabe a Red e seus amigos tentar descobrir um jeito de conseguir descobrir o esconderijo de Leonardo e seu bando e levar os ovos sãos e salvos de volta para casa.

O roteiro, escrito por Jon Vitti, se preocupa em marcar bem as características e capacidades de cada personagem, que certamente serão facilmente identificadas pelos fãs do game, embora uma ou outra ave apareça com uma habilidade diferente da mostrada no jogo. Além disso, o texto conta com boas piadas, embora algumas sejam um pouco pesadas demais para espectadores de pouca idade.

Outra qualidade, que será melhor apreciada pelos mais velhos, é o uso de referências cinematográficas na trama, como o recente “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido”. A melhor delas remete a “O Iluminado”, clássico de Stanley Kubrick. Além disso, a ideia da terapia é bem semelhante à de outro filme estrelado por Jack Nicholson, a comédia “Tratamento de Choque”, com Adam Sandler. Mas tudo é levado com leveza, afinal essa é uma animação bem família.

Os diretores estreantes Fergal Reilly e Clay Kaytis não fazem nada de inovador em termos de animação, mas também não decepcionam, mostrando que têm a produção sob controle. Sua escolha (e de sua equipe de animadores) de colocar as aves mais antropomórficas, com braços e pernas, do que as versões originais dos jogos, foi uma boa sacada pois assim os personagens têm uma movimentação mais fluida do que se fossem bolinhas saltitantes.

Vale destacar também a bela paleta de cores vivas, como a do jogo, que dão um realce a mais para o filme, que conta com uma boa trilha de canções, como a versão de “Behind Blue Eyes”, do grupo “The Who” interpretada pelo Limp Biskit, “Never Gonna Give You Up”, de Rick Astley (usada num momento realmente divertido) e a já batida “I Will Survive”, cantada pela musa teen Demi Lovato. Uma curiosidade: a boa trilha sonora instrumental é feita pelo brasileiro Heitor Silveira.

A dublagem brasileira é bem feita e até mesmo os atores contratados para fazer os personagens principais realizam um bom trabalho, embora os dubladores mais veteranos, como Guilherme Briggs e Mauro Ramos se saiam melhor. Marcelo Adnet consegue a proeza de criar uma voz para Red totalmente diferente do que já tinha feito anteriormente.

Fábio Porchat, felizmente, não repete o que realizou quando fez o Olaf de Frozen – Uma Aventura Congelante”, mas assim como na animação da Disney se destaca com o engraçado Chuck. Dani Calabresa não se compromete como Matilda, mas não torna sua dublagem marcante, assim como a youtuber Pathy dos Reis e os humoristas Irmãos Piologo, bem populares na internet.

“Angry Birds: O Filme” provavelmente não deve entrar na lista de melhores animações de 2016 por não oferecer nada a mais do que já se viu por aí. Mas não se pode menosprezar a produção por causa disso, já que para o que se propõe, que é divertir tanto quanto o joguinho em que se baseou, ela consegue. O filme serve como um bom passatempo e não deixa ninguém sem paciência (ou nervoso como o Red) durante a sua projeção. Dá para incluir na lista de boas adaptações de games para o cinema sem maiores problemas. E isso é um grande lucro.

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