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Com Anna Karenina, Joe Wright prova que é um jovem mestre do cinema

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Dá para contar nos dedos de uma mão os cineastas que nunca me decepcionaram na telona. Alguns desses, além de manterem o alto nível, ainda conseguem tocar meu coração com frequência. Joe Wright é, certamente, um desses. Portanto, qualquer avaliação de um filme seu feita por este que vos fala já vem carregada de uma simpatia inerente. O máximo que posso fazer é justificar esse meu gosto por Wright. Aí vai.

Para ser um grande cineasta é preciso escolher boas histórias. Ponto para Wright. Anna Karenina é baseado num romance de ninguém menos que Leon Tolstói. Trata-se de uma bela história de amor entre uma mulher casada e o jovem sedutor Conde Vronsky, passada na São Petesburgo do fim do século XIX. Joe Wright gosta de sagas amorosas oriundas de medalhões da literatura. Os outros dois melhores do diretor britânico são “Orgulho e Preconceito”, que vem da mais famosa obra de Jane Austen, e “Desejo e Reparação”, baseado num romance arrebatador de Ian McEwan. Mas, como se sabe, nem sempre é fácil fazer de um grande livro um grande filme. Joe Wright consegue. Anna Karenina é a prova mais recente.

A linguagem que usa para contar o avanço do amor proibido chega a lembrar Dogville, o emblemático filme de Lars Von Trier que se passa em um palco. O palco está em Anna Karenina. Os elementos característicos do teatro também. Dá para listar. Trocas nos cenários exuberantes na frente da câmera, entradas de cena triunfais que a quinta arte costuma proporcionar mais que a sétima, interpretações exageradas, inclusive com momentos em que todos os personagens são congelados para destacar os atores principais e movimentos sincronizados, como num protótipo de um musical. Em suma, Anna Karenina é uma obra de arte de uma formosura comparável à de Keira Knightley.

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Keira Knightley é a queridinha de Joe Wright. É verdade que todas as personagens que já interpretou no cinema têm muitas semelhanças. A inglesa certamente não é uma atriz fabulosa. Mas é incrível como Keira preenche bem os espaços para personagens femininos que os filmes de Joe Wright abrem. Parece que ele busca histórias com personagens que se encaixem no jeito de Keira – sempre aquela mulher irônica, intensa e desequilibrada. Ela interpreta como ninguém as complexidades e contradições que tornam as mulheres tão incompreensíveis. Esbanja volúpia nas cenas de sedução mais avançadas. Exemplo: em determinado ponto de Anna Karenina, avistei um dos beijos mais bonitos que já vi no cinema, com o devido destaque às línguas. E tome palmas para a língua nervosa de Keira. E um viva a abolição do tal beijo técnico!

Mas, se a Keira falta versatilidade, o mesmo não se pode dizer de Jude Law, que interpreta um marido resignado, uma versão russa do nosso tão conhecido corno manso – nesse caso, um alto funcionário do governo local. Inacreditável que Jude não tenha sido indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante. Interpretar uma pessoa tão apática como o Sr. Karenin requer talento. Afinal, o grande ator é aquele que sai da sua zona de conforto com relativo sucesso. Jude Law fez isso no filme de Joe Wright.

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O próprio Joe Wright não é um diretor de mesmices na tela. Embora goste de sagas amorosas, seus filmes não têm uma linguagem audiovisual estanque. Anna Karenina é dos mais ousados. A movimentação dos atores frente à tela, por exemplo, se dá como numa coreografia. As tensões são capturadas com destaque para o som, que pode parecer um adendo, mas que quando recebe destaque enriquece o filme – “O Som ao Redor”, filme mais querido do cinema nacional dos últimos anos, que o diga. Enfim, dá para falar de uma série de detalhes que mostram o capricho de Joe Wright no filme. Mas nenhuma descrição escrita valerá tanto quanto ir vê-lo no cinema. Melhor que ler sobre um mestre do cinema é assisti-lo.

[xrr rating=4.5/5]

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