Para alguns, o filme mais esperado da década, A Árvore da Vida marca o retorno de Terrence Malick às telas após meros 6 anos desde O Novo Mundo. A espera valeu a pena, mas talvez de uma forma menos recompensadora do que seus fãs imaginariam.
Contando uma história profundamente autobiográfica sobre uma família de classe média nos suburbios americanos dos anos 50, o diretor texano compõe uma espécie de sessão de análise aberta ao público sobre seu relacionamento com seus pais. E que bela sessão de análise.
Ao invés de simplesmente contar mais uma história de amadurecimento de uma criança entre os conflitos dos pais, a primeira paixão e a perda de pessoas queridas, a narrativa hiper elíptica nos joga para frente e para trás em momentos onde a vida do jovem Jack (o estreante Hunter McCracken) ganha novos significados. A câmera incansável de Emmanuel Lubezki unida da estranha, porém bela montagem, produz um efeito hipnótico no espectador, que pode até ter pago o ingresso para ver Brad Pitt e Sean Penn, mas que se completa mesmo com as atuações da bela Jessica Chastain e do singular McCracken, de quem a câmera – e o espectador – parece nunca se cansar. São esses dois personagens que nos fazem manter a atenção na tela mesmo quando o diretor parece pouco preocupado conosco. A verdade é que, apesar da qualidade e da singularidade, trata-se de um filme cansativo, mesmo para os grandes fãs do diretor. Mas sempre que começamos a nos dar conta disso, algo de novo aparece em cena para pescar nossa imaginação novamente.
Como eu não gosto de spoilers, não falarei muito sobre as cenas que ilustram o nascimento do planeta Terra e seu desenvolvimento, só posso dizer que é de tirar o fôlego.
Terrence Malick, dizem, tem o costume de chegar no set de filmagem com um roteiro verborrágico e entregar ao estúdio um filme com poucos diálogos. Seu primeiro corte geralmente tem 6 horas de duração. O modus operandi do diretor consiste em reescrever as cenas logo antes de rodar as câmeras, usando pouco ou – quase sempre – nenhuma luz artificial, o que lhe permite passar horas buscando momentos ao mesmo tempo fantásticos, líricos e realistas. Por isso, a cada filme, já se espera muita narração, devaneios, sequências silenciosas e uma deslumbrante fotografia. Apesar disso, compará-lo a um cineasta europeu – aposto que você pensou nisso – é errado. Malick, é, afinal de contas, um cineasta único.
A Árvore da Vida não é um filme para todos. Não é. Terrence Malick dirigiu um longa metragem para si próprio, como sempre fez e como continuará fazendo até onde a saúde lhe permitir – já que Hollywood, por algum milagre, continua oferecendo carta branca ao bom velhinho. Isso não quer dizer, claro, que só ele pode aproveitar a verdadeira experiência que é assistir ao filme numa sala de cinema. Infelizmente, para mim, A Árvore da Vida é muito mais do que eu poderia expor em palavras. Apesar de cansativo e de estar abaixo das expectativas, trata-se de um evento cinematográfico raro nos dias de hoje.
[xrr rating=3.5/5]
Título Original: The Tree of Life
Duração: 139 min
Ano: 2011
País: Estados Unidos
Direção: Terrence Malick
[Leia também a resenha de Daniel Barros para “A Árvore da Vida” no Ambrosia]
Muito boa a resenha. Li antes de ver o filme e reli dias depois. Algumas sensações, como a falta de palavras pra explicar a experiência de ter assistido ao filme e o timming do diretor, eu só consegui identificar agora, depois de ler o texto. Valeu, porco!
Fotografia lindíssima e atores sensacionais! Tudo perdido por um roteiro confuso e uma teologia de jardim da infância. O grande filme do diretor continua sendo “Além da Linha Vermelha”.