Talvez A Árvore da Vida seja o trabalho em que Terrence Malick tenha sido mais livre para pôr em prática seu lirismo. Não por mera coincidência o filme lhe rendeu a sua primeira Palma d’Ouro, principal prêmio do festival de Cannes. Trata-se de uma sucessão de belas imagens que, pouco a pouco, do jeito tímido de ser de Malick, conta uma história familiar que é, no fundo, uma metonímia da vida – taí o porquê do título. Faz parte dessa sucessão, por exemplo, 15 a 20 minutos de cenas aparentemente aleatórias – de vários tipos de seres vivos, do espaço, do surgimento da terra, de paisagens exóticas etc – que, na minha leitura, vêm para reforçar esse sentido de que a história a ser contada ali é a parte pelo todo. Para alguns, porém, pode parecer apenas um bom protetor de tela para o computador.
A tal história é da família sob a égide do personagem de Brad Pitt, em mais uma atuação irrepreensível. O ponto de partida é o momento em que morre o filho mais velho, ainda bem jovem. Sean Penn, sobre quem muito se fala porque interpreta um filho de Brad Pitt na idade adulta, fala poucas linhas e, francamente, não ilustra a parte mais interessante do filme, sim a mais lírica – não que os dois adjetivos sejam antônimos. O núcleo da reflexão audiovisual de Malick está nas minúcias intra-familiares, principalmente no poder que o pai exerce sobre os filhos. Não deixa de ser irônico – e duvido que seja coincidência – que esse filme estreie no Brasil justamente no fim de semana do dia dos pais. E vale a pena vê-lo se você for ou tiver planos de ser pai.
Não sou o maior fã de uma das principais marcas de Malick, que é pôr vozes ao fundo de algumas cenas com questionamentos que, frequentemente, parecem endereçados a Deus. Se isso tem uma importância narrativa notória no seu filme anterior, “O Novo Mundo”, em “A Árvore da Vida” é uma tentativa frustrada de causar reflexão. Essa mesma estrutura, que tanto se repete em seus filmes, é tão cansativa nesse último como me pareceu em “Além da linha vermelha”, que talvez fosse sua principal obra até esse ano, ainda que deva-se levar em consideração o caráter mais livre da narrativa de “Árvore da Vida.”
Mais do que autoral, esse último longa de Malick é pessoal. Primeiro, sua formação em filosofia em Harvard é certamente uma influência para que tente tão avidamente produzir alguma reflexão, principalmente quando se trata de família. Além disso, diz-se que a história tem muito de sua própria infância, além de filmagens em sua cidade natal Waco, no Texas e menções religiosas freqüentes, fruto de seu catolicismo visceral.
Não há nada unânime em A Árvore da Vida – ou quase nada porque não consigo imaginar um motivo para criticar a atuação de Brad Pitt. Essa imprevisibilidade de como cada espectador receberá é uma das coisas mais bacanas do cinema e, por isso, acho que todo mundo que gosta da sétima arte tem a obrigação de assistir esse filme. Para mim, acabou sendo chato em alguns momentos, exceto no miolo do filme, onde se observa as crianças da família crescendo e se pode ver que Malick sabe contar uma história com uma câmera como poucos. Não é tão obra-prima como o júri do festival de Cannes achou, nem um drama tão pretensioso e impenetrável como o grande público americano deve ter pensado que fosse, dada a bilheteria doméstica que sequer pagou metade do custo de produção. Para os anglófonos, vale a pena conferir a entrevista de Brad Pitt ao jornal inglês Guardian, onde ele ele fala sobre o misterioso diretor de “Árvore da Vida.”
[xrr rating=3.5/5]
Título original: Tree of Life
Duração: 139 minutos
Ano: 2011
País: Estados Unidos
Direção: Terrence Malick
[Leia também a resenha de Henrique Amud para a Árvore da Vida no Ambrosia.]