É como se fôssemos dançar. Sair do espaço fixo das regras de marcação da vida. A dança nos convida aos pares; à dois, num ritmo próprio. A encenação é uma marcação que obedece a uma dança, mas de atores, represando suas figuras reais para dar margem aos personagens. Ao mesmo tempo que a Dança tem um caráter erótico, o Teatro tem um caráter lúdico que é predecessor de qualquer erotismo. Quando fui ver Beber, cantar e amar, já me animei pelo título libertário. Era o último filme feito do consagrado diretor francês Alan Resnais, (Hiroshima, meu amor) antes de falecer no início deste ano. São 6 personagem, dois casais que têm laços de amizade entre si, e um casal que vive numa fazenda com relações afeto matrimoniais e mais um homem chamado George que nunca aparecerá – e que no início do filme os amigos divulgam que ele pode estar doente e com os meses contados. O diretor faz uma divertida e imbrincada confusão entre cenas que são filmadas como estradas que dão ideia de transito entre os locais aonde os personagens agem e transitam, e uma ação eminentemente teatral num tablado com coxias e cenários típicos de um teatro. A cor por sinal é sempre forte. Dos seis personagens, três estão ensaiando um texto amador que vão encenar num determinado momento.
George é chamado para atuar, mas o espectador nunca o vê, toda sua simbologia é narrada pelos amigos\ personagens. O erotismo de quem não se vê, mas pleno em seu vigor de vida biográfica. O amigo de longa data chora quando descobre a doença de George. A ex-mulher dele vive numa fazenda com um agricultor. Os textos são passados pelos três atores sendo dois deles um casal, e relação espaço corporal é tramada através de movimentações dos atores de fora (palco) para dentro das coxias. O filme vai se rodeando numa ótima coreografia entre o grifo das cenas e sua encenação e o andamento das relações dos seis personagens com a já onipresença do amigo que parece que está em pauta em todos os assuntos tanto dos amigos quanto das mulheres que começam a gravitar amorosamente em torno dele. Resnais cria uma fábula das lacunas do processo criativo e seu engendro.
Porque a possibilidade da perda é necessária para o labor da Arte. Aonde nos enfiamos? Em que buraco a vida é uma longa duração de jogo\encenação, e como as máscaras são intercambiáveis entre o vivido e o representado. As pausas que são deixas para o parceiro\ ator – podem? Ser micro – separações nas identidades afeto sexuais.
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