A internet voltou da hora do almoço do dia 25 de fevereiro de 2014 fervilhando com a informação, emitida pela distribuidora Imovision, de que o filme “Azul é a Cor Mais Quente” não seria lançado no mercado nacional de Blu-ray pela resistência da empresa produziria a mídia devido ao conteúdo do filme.
Logo, a internet fervilhou em raiva e acusações de homofobia e falsa moralidade.
A par destes fatos, pessoas vieram a tona dizendo que isso seria um HOAX, uma notícia falsa publicada pela própria distribuidora, alegando que a mesma nunca lançou Blu-rays no mercado brasileiro e que o motivo é o valor gasto na produção e não o conteúdo do filme. Entretanto, a Imovision, através de nota oficial lançada agora à pouco confirmou a história e deu nome aos bois.
NOTA OFICIAL: BLU-RAY DE “AZUL É A COR MAIS QUENTE”
“Depois das dificuldades encontradas para a replicação do DVD do filme “Azul é a Cor Mais Quente”, a Imovision procurou a empresa brasileira Sonopress, que replica seus títulos em Blu-ray, mas a mesma se recusou e ainda alegou que nenhuma outra empresa faria o serviço.
A Imovision então contatou a SONY DADC, que também se recusou a produzir o Blu-ray do filme, por considerar o conteúdo inadequado devido às cenas de sexo, apesar do filme já ter sido classificado para maiores de 18 anos.
O filme, vencedor do Festival de Cannes, só poderá ser reproduzido em DVD até o momento. A Imovision, distribuidora do filme, lamenta o fato e busca alternativas para a replicação do filme em Blu-ray no âmbito nacional.”
Antes de mais nada, se realmente for verdade as alegações, a SONY DADC e a Sonopress acabaram de dar um belo tiro no próprio pé pois o filme já está sendo vendido, e com desconto, pela Criterion Collection. Ter um filme como este no seu catálogo também deveria ser meritório e não uma vergonha.
Alegar que tem cenas de sexo fortes só não é desconcertante como sem nexo. A censura do mesmo é 18 anos e outros filmes com o mesmo grau de censura já foram lançados no mercado caseiro. Ainda assim, cunhar as produtoras como homofobicas pode ser uma acusação grave demais. Para aqueles que assistiram ou acompanharam na internet, realmente há um conteúdo sexual forte, mas nada que se possa ser considerado explícito ou pornográfico. Faz parte do filme e da sua história.
A crítica a ser feita aqui neste caso é apenas uma: teria a Imovision se adiantado ao criticar publicamente tais produtoras?
Será que as razões não são meramente de mercado? Ou seja, será que a produção de um blu-ray não seria cara demais para um filme que, mesmo aclamado pela internet, não teve um público de destaque nas salas de cinema do Brasil? Não tenho os dados oficiais do Brasil, mas nos EUA o filme arrecadou pouco mais de 2 milhões de dólares em 4 meses de exibição. Em Portugal, o filme arrecadou pouco mais de 49 mil euros. (Fonte: IMDB)
No Brasil, as distribuidoras conseguiram colocar uma ou outra sessão em horários péssimos nas grandes salas de cinema e que só exibiram durante um ou dois finais de semana. Os cinemas fora das grandes redes conseguiram cópias e ainda o está passando, mas a procura pelas sessões é pequena. Realmente, a produção do blu-ray seria um investimento de risco, não pela conotação homossexual do filme, mas porque o público em geral não vai se voltar ao mercado caseiro e comprar sem uma grande campanha de divulgação, coisa que nem Imovision e nem outra produtora costumam fazer.
É perigoso acusar de homofobia uma distribuidora que simplesmente se recusa a lançar um filme devido a seu conteúdo sexual como a Sonopress confirmou em nota a imprensa alegando contratos com a Disney que a proíbe de produzir blu rays com conteúdo adulto ou pornográfico. Ora, estamos falando de um filme de arte com cenas de sexo e não um filme do Brasileirinhas. Há uma clara diferença e o fato de que as produtoras nacionais não se importam com isso, é perturbante.
O que não pode acontecer é, se por acaso, uma destas produtoras lançar o blu-ray de “Ninfomaníaca” que ao que tudo consta, contém cenas de sexo muito mais explícitas que os de “Azul” e ainda assim teve mais destaque nas salas de cinema. Aí sim estaríamos falando de hipocrisia e homofobia, afinal, um casal de lésbicas se pegando é vetado, mas mostrar um casal hétero em cenas de sexo explícito é bastante natural aos olhos destes executivos?
O poder econômico realmente pode ser a resposta dessa situação toda, mas o cheiro de homofobia está no ar e é uma pena que as pessoas ainda precisem se preocupar com este tipo de situação.