“Batman” não inova, mas apresenta indiscutível excelência

“Batman” chega apenas cinco anos depois que vimos a última encarnação do Homem-Morcego, no filme da Liga da Justiça. Mas a Warner, pretendendo uma repaginada no seu personagem mais famoso (segundo pesquisas o personagem dos quadrinhos mais identificável do mundo), convocou o ex-vampiro de “Crepúsculo”, Robert Pattinson (para desespero dos puristas, por seu passado na…


“Batman” chega apenas cinco anos depois que vimos a última encarnação do Homem-Morcego, no filme da Liga da Justiça. Mas a Warner, pretendendo uma repaginada no seu personagem mais famoso (segundo pesquisas o personagem dos quadrinhos mais identificável do mundo), convocou o ex-vampiro de “Crepúsculo”, Robert Pattinson (para desespero dos puristas, por seu passado na franquia adolescente), para o papel do Cruzado de Gotham. Para comandar a produção, a opção do estúdio foi Matt Reeves, que dirigiu magistralmente os dois últimos filmes da trilogia próloga de “O Planeta dos Macacos”.

Em The Batman, Quando o Charada, aqui retratado como um serial killer sádico, começa a assassinar figuras políticas importantes em Gotham, o Homem-Morcego é forçado a investigar a corrupção oculta da cidade e questionar o passado de sua família.

Desde o início de sua produção, esse Batman foi vendido com sendo uma espécie de revolução do personagem no cinema. Tanto Pattinson quanto Reeves não se furtavam em dizer o quão diferente de tudo feito antes com o personagem esse longa seria. Quanto à excelência em diversos aspectos não há o que se questionar. O filme é um daqueles exemplos de eficácia para servir de modelo. A forma como Reeves alinhavou, junto com o corroteirista Peter Craig (“Jogos Vorazes: A Esperança”, “Bad Boys Para Sempre”), essa trama com clara inspiração em “Serpico”, “Seven” e “Zodíaco” é de uma sofisticação indiscutível.

Aqui temos uma trama de investigação sobre um assassino em série que sabemos quem é, e a tensão fica por conta de como os protagonistas irão descobrir a identidade do procurado. E se muitos fãs de Batman sentiam falta de sua faceta detetive devidamente explorada, esse é o lugar. Reeves cumpriu com a promessa de mostrar o defensor de Gotham como um exímio investigador, peça fundamental para a solução do caso, daí o comissário Gordon, a despeito da desconfiança dos oficiais da polícia, permite que o vigilante participe lado a lado da ação.

Mas a novidade (ou a sensação de) fica por aí. De resto, “Batman” não se difere tanto conceitualmente do que já foi visto anteriormente, sobretudo na trilogia do diretor Christopher Nolan. Ali estão o realismo, uma perseguição com tombamento de caminhão (que o Cavaleiro das Trevas nos mostrou de maneira mais acachapante), o herói face a face com o vilão em uma cela. É impossível dissociar do que foi estabelecido por Nolan como paradigma.

A trama apesar de bem construída, não traz exatamente um grande assombro ou reviravolta que justifique as promessas de ineditismo no que tange à forma com que se aborda o personagem. Até a longa duração (épicas 2 horas e 56) não causam estranheza frente às 2h44 de O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Então qual é o mérito?

É justamente como Matt Reeves mostra que é possível, com capricho e seriedade, recontar uma história mais do que batida e fazê-la parecer fresca. O grande feito do diretor e roteirista está em proporcionar espanto, frio da barriga, mesmo cientes de que estamos em um terreno previamente mapeado.

A engenharia não funcionaria sem o apoio de um elenco eficaz. Robert Pattinson surpreende como um bom Bruce Wayne/Batman? Sim para quem só o conhece de Crepúsculo. E não para quem o  viu em longas como Cosmópolis. É uma performance incrível? Não, e muito mais pelo desenho do personagem no script do que por equívocos de composição do ator. Já quem duvidava que Andy Serkis, famoso por suas atuações com capturas de movimento para criaturas não humanas, renderia um bom Alfred, aí sim pode se surpreender. O Charada de Paul Dano mantém a tradição de vilões bem interpretados nos filmes de Batman, o mesmo pode ser dito a respeito de Colin Farrell como Pinguim (debaixo de uma pesada maquiagem que o deixou irreconhecível) e o mafioso Carmine Falcone vivido por John Turturro.

Zoë Kravitz interpreta com galhardia uma Mulher-Gato em consonância com o empoderamento feminino atual, mas sem deixar de lado elementos e maneirismos clássicos da personagem. Mesmo com uma reviravolta meio previsível, a gatuna brilha na trama, e não é exagero colocá-la como a melhor personificação da intrigante figura feminina do universo do herói.

Fotografia e direção de arte são outros belos acertos da produção. O diretor de fotografia Greig Fraser (“Rogue One”, “Duna”)abusou dos tons de vermelho para criar a atmosfera sombria, evitando a predominância óbvia do cinza e azul. A direção de arte traz uma Gotham decadente e chuvosa, em consonância com o Bruce Wayne mais taciturno. A cidade lembra em muitos momentos a Los Angeles de “Blade Runner” – o clima do filme de Ridley Scott é de certa forma reforçado pela narração em off de Bruce Wayne, como Deckard na versão do estúdio.

É exagero chamar “Batman” de reinvenção. Assim como é arriscado chamar de versão definitiva, afinal de contas, sabemos de provavelmente em uns seis anos haverá um novo reboot aclamado. Mas não deixa de ser interessante observar como após mais de 30 anos nas telonas o Vigilante de Gotham fornece matéria prima para sólidas histórias que mostram que super-heróis já deixaram há muito de ser brincadeira de criança.

Nota: Excelente – 4 de 5 estrelas


2 respostas para ““Batman” não inova, mas apresenta indiscutível excelência”

  1. Avatar de Cain Matheus
    Cain Matheus

    Se não estivesse quebrado ia ver hoje mesmo nos cinemas

    1. Avatar de Cesar Monteiro
      Cesar Monteiro

      Vale a pena. Assim que for possível vá ver no cinema, de preferência IMAX, UCI XPlus, Cinemark XD, Cinepic, ou Kinoevolution

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