“Batman Vs Superman: A Origem da Justiça” perde a chance de empolgar com seus exageros

Com o sucesso cada vez maior dos super-heróis no cinema, especialmente dos personagens da Marvel, não demorou muito para que a DC Comics, junto à Warner Bros., se interessasse em criar um universo onde seus paladinos pudessem conviver, assim como foi feito com o Homem de FerroCapitão AméricaHulkThor e outros.

A ideia ficou ainda mais forte após o fim da Trilogia Cavaleiro das Trevas, criada por Christopher Nolan, já que era possível reiniciar a trajetória do milionário Bruce Wayne e seu alter ego sem se preocupar com o que já foi mostrado. Primeiro, lançaram em 2013 “O Homem de Aço”, que refaz a origem do Superman, mas com alguns “easter eggs” que mostravam que Batman também existia nesta nova realidade.

Com o bom retorno comercial do filme, ao contrário do que aconteceu com “Superman: O Retorno” (2006), todos esperavam que viria uma sequência das aventuras do último filho de Krypton. Só que o diretor Zack Snyder surpreendeu a todos e, durante a Comic Con daquele ano, em San Diego, anunciou que não só teríamos o Superman de volta, como também Batman seria peça importante do filme que viria.

Três anos depois, chega aos cinemas “Batman Vs Superman: A Origem da Justiça” (“Batman V Superman: Dawn of Justice”), que além de levar para a tela grande uma das grandes rixas dos quadrinhos, ainda tem a obrigação de fazer esse novo universo funcionar, para que novas produções possam se suceder.

O filme até possui bons momentos, tem ótimos efeitos especiais, um bom elenco e uma trama que, se não é perfeita, pelo menos mantém o interesse. Só que a grandiloquência exagerada de Snyder acaba estragando a diversão e tornam a aventura um pouco cansativa e histérica sem necessidade.Ambientada dois anos após os acontecimentos de “O Homem de Aço”, a trama mostra Bruce Wayne (Ben Affleck) às voltas com questões relacionadas à destruição de Metrópolis, que ele testemunhou pessoalmente, e que pôs abaixo, inclusive, um dos prédios de seu mega-império empresarial.

Convencido de que a presença de Superman (Henry Cavill) é bastante nociva à humanidade, Wayne tenta descobrir uma maneira de deter o alienígena. Ao mesmo tempo, Clark Kent está interessado em saber mais sobre o misterioso Batman, que usa métodos bastante violentos para combater os criminosos de Gotham City, para desespero de seu chefe, Perry White (Laurence Fishburne).

As investigações de ambos os levam a entrar em conflito, o que agrada Lex Luthor (Jesse Eisenberg), disposto a levar o confronto entre o Filho de Krypton e o Morcego de Gotham até as últimas consequências. Em meio a tudo isso, surge a bela e intrigante Diana Prince (Gal Gadot), que pode se tornar uma aliada de Batman e Superman contra uma ameaça ainda maior.

Para contar essa história, bem mais complexa do que a de “O Homem de Aço”Zack Snyder se vale de todos os recursos que gosta de utilizar em seus filmes (e que já estão se tornando sua marca registrada, para o bem ou para o mal), como câmera lenta em excesso para deixar algumas cenas com um tom épico, fotografia com cores saturadas, sequências de luta dinâmicas e, ao mesmo tempo, longas…

Enfim, tudo que pode causar até um certo deleite aos olhos do público, ávido por um deslumbramento visual que o cinema pode proporcionar. E, acredite, o filme realmente impressiona na parte plástica, especialmente no momento em que os protagonistas resolvem se enfrentar, gerando algumas das melhores cenas do longa, que realmente empolgam o espectador.

O problema é que, tirando isso, algo não parece bem coeso neste “Batman Vs Superman”. Fica a impressão que, lá pelas tantas, Snyder quis perder o controle e se preocupar mais em criar novas formas de filmar socos, tiros e explosões, ao invés de dar aos seus protagonistas algo mais profundo para eles, como ele chega a fazer na primeira parte do filme.

O roteiro, escrito por Chris Terio (de “Argo”) e David S. Goyer (“Batman Begins”, “O Homem de Aço”), também não ajuda, por criar situações e subtramas demais, que no fim das contas não fazem muito sentido e não têm necessidade de existir, tanto que chegam a ser esquecidas e não são lembradas nem na parte final da história. O excesso de personagens também não ajuda. Mas o texto ganha muitos pontos por colocar elementos de quadrinhos populares entre os fãs, como “Batman: O Cavaleiro das Trevas”“Superman: Entre a Foice e o Martelo”“Lex Luthor: Homem de Aço”, que dão um sabor especial ao filme.

Outro destaque negativo do filme está na trilha sonora de Hans Zimmer Junkie XL, que se resume a ruídos e sons de percussão que bombardeiam os ouvidos sem a maior necessidade. Tanto que os melhores momentos da música remetem ao trabalho feito por Zimmer em “O Homem de Aço”.

Escalado para substituir Christian Bale, que fez um ótimo trabalho como o Cavaleiro das Trevas da trilogia de Christopher NolanBen Affleck se sai bem e consegue convencer tanto como Bruce Wayne quanto como Batman. É visível que o ator se dedicou bastante na parte física e fica realmente intimidador com o uniforme do Homem-Morcego, além de realizar as cenas de luta de maneira brutal e intensa, especialmente em um momento em que enfrenta, sozinho, vários criminosos no combate corpo a corpo.

Henry Cavill, embora não faça nada muito diferente do que fez em “O Homem de Aço”, não chega a ser ofuscado por Affleck e passa bem a angústia que sofre por ser alguém que desperta a desconfiança das pessoas por ser tão poderoso. Amy Adams também não traz grandes novidades à sua Lois Lane, ainda mais que o roteiro não corrige uma das falhas mais graves do filme anterior, que era a sua onipresença em várias situações que não era exatamente necessária para a ação. Mas continua a ser uma boa e confiável atriz, que não deixa a peteca cair. Diane Lane, embora apareça pouco, consegue passar bem a força de Martha Kent, a bússola moral do filho Clark Kent.

Jesse Eisenberg causou uma certa estranheza quando foi escolhido para interpretar Lex Luthor, ainda mais porque, na época, ainda colhia os louros por sua atuação como Mark Zuckerberg, o chefão do Facebook em “A Rede Social”. Mas o ator não se sai mal, ao mostrar as facetas do vilão, que parece uma mistura psicótica e sociopata de Zuckerberg, Steve Jobs e Bill Gates, que faz o possível para manipular a todos e mostrar que é superior com seus sonhos de conquista.

Jeremy Irons foi uma grata surpresa como Alfred, que aqui é um pouco mais sarcástico e irônico do que Michael Caine Michael Gough, intérpretes do mordomo nos filmes anteriores do Batman, e também é um pouco mais ativo do que nas outras versões.

Mas a maior revelação de “Batman Vs Superman: A Origem da Justiça” é a israelense Gal Gadot. Mais conhecida por sua participação na série “Velozes e Furiosos”, a atriz mostra força e carisma como Diana Prince/Mulher Maravilha, especialmente nas cenas que divide com Affleck, transmite bem o prazer que a personagem tem de estar no meio de um combate e tem um momento que vai fazer muita gente bater palmas no cinema.

A guerreira amazona deve ganhar ainda mais destaque quando sair o seu filme solo, dirigido por Patty Jenkins, e, claro, no vindouro “Liga da Justiça”, previsto para 2017. Certamente, vai ter muita gente falando mais da Mulher Maravilha ao fim da sessão do que dos outros heróis.

Com um desfecho ousado e surpreendente, “Batman Vs Superman: A Origem da Justiça” vai realmente dividir opiniões, o que em parte é bom, já que levantar discussões é sempre algo bem vindo. Mas está, certamente, longe de ser a melhor adaptação de quadrinhos para o cinema.

Pelo menos, é um bom início para o universo que a DC Comics pretende desenvolver nos próximos anos e já tem “Esquadrão Suicida” engatilhado para estrear ainda em 2016. De qualquer forma, é sempre bom ver os dois maiores símbolos da editora na tela grande, mesmo em lados opostos. Vamos esperar para ver o que pode vir por aí.

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