Quando “Better Man: A História de Robbie Williams” foi anunciado, como a cinebiografia protagonizada não por um ator parecido, bem caracterizado, que treinou por meses ou anos para captar todos os trejeitos do astro inglês, e sim por um… chimpanzé em CGI, a primeira reação de qualquer um foi o estranhamento. Para logo em seguida ser substituída pela curiosidade em relação ao inusitado.
O longa se propõe a contar, com um viés fantástico, mas sem se desgarrar do crível, a trajetória de um dos artistas pop mais famosos dos anos 90 e 2000. Robbie Williams não é apenas um cantor talentoso, ele é uma estrela carismática e escandalosa que, em sua juventude, estabeleceu a meta de se destacar e se tornar famoso em todo o mundo. O filme conta como Robbie se sentia selvagem quando criança e, para provar a todos que era capaz de realizar muito, ele mergulhou na música, alcançando a fama na boy band Take That e posteriormente o megaestrelato solo. Justamente para traduzir essa característica, foi ilustrado como o primata. E também pelo fato de o popstar se considerar um macaco performando.

A direção é de Michael Gracey, de “O Rei do Show”. Aqui ele se utiliza de todo o mis-en-scène que fizeram o filme de 2017 um sucesso entre fãs de musicais, e soube adequá-los ao conceito de ópera-rock que reveste “Better Man”, seguindo a mesma decisão criativa de “Rocketman”, que contava a história de Elton John. Para aqueles que preferem esse formato ao já surrado esquema tradicional de ascensão, queda e redenção, o filme é imperdível.

Gracey empresta seu estilo pop opulento a uma história que até poderia ser contada da forma convencional (com direito a erros cronológicos pelo meio) e se sai muito bem, seja nos números musicais de sua criação, tendo músicas do cantor como trilha – elas não aparecem necessariamente obedecendo a cronologia, o que é permitido nesse formato – ou em reproduções de apresentações conhecidas. Todos com uma execução hercúlea, inclusive enfrentando alguns fatores alheios à produção. A sequência musical na Regent Street, em Londres, por exemplo, levou um ano e meio para ser autorizada. Porém, dois dias antes da gravação, a morte da Rainha Elizabeth II adiou os planos, gerando custos imprevistos que o seguro não cobria. Os produtores precisaram arrecadar mais fundos, e a cena foi filmada cinco meses depois.
Quem interpreta Williams, dublando e narrando, é o próprio. Já quem quem encena fisicamente no set é Jonno Davis que performa fisicamente. Davies estava vestido com um traje de captura de performance e, mais tarde, foi transformado no primata pela Weta FX, que há 23 anos realizou a mesma técnica criando Gollum em “O Senhor dos Anéis”. O curioso é que o chimpanzé digital vai apresentando os estilos de penteado que o astro usou em diferentes fases, o que os fãs reconhecerão imediatamente.

“Better Man: A História de Robbie Williams” é também uma cinebiografia honesta, por mais que seja fantasiosa. Sem tentar criar uma imagem santificada, como fazem alguns filmes biográficos de astros da música, coloca também alguns “podres” de Williams. O principal sustentáculo é sua relação com o pai Peter (muito bem interpretado por Steve Pemberton), um arco de desenvolvimento bastante acertado, que rende momentos comoventes. Todos os elementos essenciais para compor um musical envolvente (humor, drama e bons números) são habilmente condensados.
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