“Billi Pig” é carismático em suas qualidades e defeitos

 

José Eduardo Belmonte é um dos cineastas mais singulares e personalista do nosso cinema, tendo feito obras polêmicas e reflexivas sobre a sociedade brasileira pela perspectiva da juventude que a subsidia e forma. Se Nada Mais Der Certo e A Concepção são exemplos claros desse paradigma.

Mas, talvez para não ficar preso a um discurso ou a uma áurea blasé de um feudo específico do cinema nacional, Belmonte procurou ousar e/ou brincar com um gênero tido como menor e antagonista da autoralidade que marcou o trabalho do diretor até aqui: a chanchada.

Billi Pig, que desenvolve as tramas de um casal suburbano e de um padre picareta contra o chefe do tráfico local, é uma comédia calcada no nonsense em que o diretor forja muito bem uma improvável química entre Selton Mello e Grazi Massafera (ótima e perfeitamente integrada ao clima), num universo do absurdo que é preciso estar disposto a embarcar para digerir com satisfação. Ainda que o roteiro vacile do meio para o fim, posso dizer que dá para se divertir com essa nova faceta de Belmonte.

A inspiração, digamos, estrutural de Belmonte se vale das chanchadas (um tanto teatrais) dos anos 40 e 50, e isso imprime a comédia um artificialismo que pode incomodar, por outro lado, traz a narrativa um viés bizarro que beira o irresistível. Mas o mais curioso é notar que, de todo o elenco, é Grazi que entrega as melhores e mais inspiradas cenas, com sua destreza para lidar com a quase caricatura de seu papel.

No fim, o roteiro vacila numa solução apressada, mas Belmonte não desfoca um minuto sequer de sua pretensão de homenagear um gênero que encontrava nas imperfeições (propositais ou não!) o seu ápice. Talvez o filme também encare assim a sua forma de ser… Nem bom, nem ruim. Apenas carismático.

[xrr rating=2.5/5]

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