Por acaso o filme mais interessante entre as estréias da última semana, a exemplo da semana retrasado com “A Bruxa”, também foi do gênero terror/suspense. “Boa Noite, Mamãe”(Ich Seh, Ich Seh/ Áustria, 2014) é um suspense dramático elaborado de forma que beira a perfeição. Segue com retidão a regra de como se construir um eficiente exemplar do gênero.
No calor do verão, uma casa em uma longínqua zona rural entre bosques e milharais, vivem os irmãos gêmeos Elias e Lukas (Elias e Lukas Schwarz), que estão esperando por sua mãe (Suzanne Wuest). Quando ela chega em casa, enfaixado após cirurgia estética, nada é como antes. As crianças começam a duvidar de que esta mulher é realmente sua mãe. Ela por sua vez sofre pelo trauma do acidente e pelo recente divórcio e tem que lidar com a desconfiança sobre sua identidade.
Não é um filme que se debruça em cima de sustos óbvios (na verdade não há nenhuma cena de susto) ou de música de suspense para compôr o clima. A atmosfera se dá com uma competentíssima edição, com uma colagem de planos irrepreensível e os elementos essenciais sendo aos poucos lançados ao espectador, mas entregues em pequenas doses, fazendo com que a atenção não seja desviada em momento algum.
Conforme o filme avança, a agonia e a tensão também vão em um crescendo. No terço final, é o espectador que se torna refém do roteiro de Veronika Franz e Severin Fiala, que também assianam a direção com maestria. Infelizmente, por ser um filme austríaco e não uma grande produção americana, o filme chega ao Brasil com um ano de atraso (dois se considerar o circuito de festivais por que passou).
“Boa Noite, Mamãe” mostra que não é só com monstros, zumbis e fantasmas que se cria um contexto aterrorizante. Mais apavorante ainda pode ser a psiqué humana, que quando bem explorada serve de argumento para qualquer história arrepiante. E a eclosão vinda do núcleo familiar é um pujante catalizador da tensão, tendo um imberbe complexo de édipo como motor.
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