Borderlands mostra que filmes de game ainda podem ser ruins

Até meados dos anos 2010 era tão certo quanto o nascer do sol no dia seguinte que uma adaptação cinematográfica de videogames seria pífia. Desde o desastroso “Super Mario Bros.” de 1993 que os fãs dos games sofriam ao ver seus jogos favoritos transpostos para a telona de maneira tão descuidada. A coisa começou a melhorar, em tese, quando começaram a sair títulos que respeitavam a matriz como Warcraft e Detetive Pikachu (sim, Pokémon nasceu como um videogame, e o título em questão é inspirado no jogo homônimo). É nesse cenário bastante propício que chega “Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo”, após o sucesso de “Super Mario Bros. – O Filme”, que faturou mais de 1 bilhão de dólares nas bilheterias e foi considerado satisfatório, assim como os dois longas do Sonic. Todavia, essa adaptação da franquia – lançada em 2009 pela 2K Games – teve como calcanhar de Aquiles a indefinição se pretende se aproximar da matriz ou de filmes da Marvel, por exemplo.

Na trama acompanhamos Lilith (Cate Blanchett), uma caçadora de recompensas com um passado misterioso, que retorna de forma relutante à sua terra natal, Pandora, o planeta mais caótico da galáxia. Sua missão é encontrar a filha desaparecida de Atlas (Edgar Ramírez), o S.O.B. mais poderoso do universo. Lilith forma uma aliança inesperada com um grupo de desajustados – Roland (Kevin Hart), um mercenário experiente em uma missão; Tiny Tina (Ariana Greenblatt), uma pré-adolescente selvagem especialista em demolição; Krieg (Florian Munteanu), o protetor musculoso de Tina; Tannis (Jamie Lee Curtis), a cientista excêntrica que já viu de tudo; e Claptrap (Jack Black), um robô sarcástico. Essa equipe improvável devem enfrentar uma espécie alienígena e bandidos perigosos para desvendar um dos segredos mais explosivos de Pandora.

Daí fica um pouco óbvio que se trata de um produto que atira para todos os lados. Mas é possível identificar clara inspiração em Guardiões da Galáxia na configuração da equipe e sua dinâmica. Ocorre que o carisma e a graça que sobram na equipe da Marvel Studios fazem bastante falta aqui. A saída é marota, uma vez que se adaptar um shooter é tarefa ingrata. Como extrair uma trama de uma plataforma que consiste apenas em atirar?

Daí acreditaram em investir em um elenco de peso. Cate Blanchett, apesar de bem mais velha do que a sua contraparte dos videogames aparenta, até se sai bem, mesmo atuando no piloto automático. Jamie Lee Curtis também faz um bom trabalho. Já Kevin Hart acaba tendo rendimento aquém muito mais por conta da concepção do personagem, o mesmo ocorre com Jack Black, que faz a voz do robô com função de alívio cômico que consegue apenas ser irritante.

O diretor Eli Roth, que também assinou o roteiro, buscou se aproximar da identidade visual do game, com uma fotografia saturada, e isso pode ser visto como um dos pontos positivos da produção. As cenas em que o cineasta quis imprimir uma linguagem que remete diretamente aos videogames patinam na irregularidade, assim como as sequências de ação, sobretudo quando buscam emular a dinâmica de um jogo.

Por fim, “Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo” mostra que, infelizmente, apesar de o cinema de games apontar para tempos mais alvissareiros, infelizmente ainda estamos sujeitos a produções ruins. O fracasso de bilheteria e a aprovação quase nula nos sites de avaliação mostra que nem os fãs do game abraçaram a ideia. É preciso muito mais que um mix de elementos que já deram certo em outras propriedades para se dar início a uma franquia cinematográfica. Essa aqui, pelo visto, não decolou.

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