O Oscar, dentro de sua breguice, senso de injustiça e muita marmotagem, segue nos divertindo ano a ano, com a verdadeira máquina de marketing que tem por trás e uma capacidade impressionante de estar na crista da opinião público há mais de 70 anos.
Em 2012, a safra está inacreditavelmente ruim, como nunca e, pelo menos uns bons 3 ou 4 filmes não justificam sua presença dentre os indicados. Falaremos então de cada um desses:
OS DESCENDENTES
É preciso de alguns segundos para se recuperar das experiências emocionais que esse filmes, dentro de uma absurda simplicidade, consegue nos evocar. Uma direção de personalidade com um roteiro de aprofundamento resultam num filme desconcertante e que acaba com nossas certezas sobre nossas próprias emoções e julgamentos. Fora que mais da metade do cinema saiu aos prantos… Para mim é, até agora, o merecedor incontestável do Oscar desse ano, principalmente pelo efeito reflexivo que nos impregna de forma sutil, inteligente e substancial.
O ARTISTA
Filme sensação da temporada e provável ganhador da noite, a produção anglo-francesa (e muito americana, não se enganem!) é um deleite para os fãs de cinema e de uma sensibilidade tanto imagética quanto evocativa de encher os olhos. Porém, não vejo essa obra-prima toda que tanto falam e fico intrigado se a produção – em preto e branco e muda – é mesmo esse primor todo, ou se vivemos em tempos tão cínicos que qualquer filme “simples” e afetivo como esse, acaba parecendo maior do que realmente é. Divago…
MEIA NOITE EM PARIS
Woody Allen merecia muito essa indicação (afinal, acho dificílimo ela ganhar o Oscar em si!), pois seu filme é uma das alegorias mais lindas que já vimos sobre as questões e conformações do tempo. Fora que é um dos roteiros mais modernos e tenazes que o cineasta já escreveu.
HISTÓRIAS CRUZADAS
Ok, o filme é maniqueísta e mal realizado, porém é o típico caso de produção que se sustenta pela força de suas atuações (Viola Davis é um estrondo de atriz desde sempre!) e na habilidade em nos emocionar para além de tanta cretinice dramatúrgica. Se tivesse caído em mãos de um diretor realmente talentoso ou, no mínimo, ciente da delicadeza do tema, seria um clássico.
A ÁRVORE DA VIDA
Um filme que suscita amor e ódio. Não me conformo em como uma história tão bem contada pôde ser tão destruída pelos maneirismos (filosóficos) e excesso de pretensão do diretor Terrence Mallick. A trama da família é maravilhosa, mas o prólogo e o epílogo, que buscam uma sustentação metafórica para o todo, é de uma chatice imperdoável…
A INVENÇÃO DE HUGO CABRET
Scorcese é um entusiasmante entusiasta do cinema, fazendo notável trabalho de recuperação de clássicos raros e afins. Essa paixão é o mel e o fel de seu novo filme, que presta uma das mais belas homenagens ao cinema (até mais veemente que O Artista), porém numa trama rasa, melodramática que parece querer compensar na impressionante direção de arte e no ótimo uso do 3D suas falhas como história. Scorcese continua mestre do audiovisual, mas quando está muito apaixonado, como todos nós, enfia os pés pelas mãos.
TÃO FORTE E TÃO PERTO
O diretor Stephen Daldry começou muito bem: Billy Elliot e As Horas são maravilhosos. Porém nos últimos anos tem caído na armadilha melodramática da pretensão, afinal, de seus 4 filmes, 3 foram indicados a Melhor Filme. Tão Forte e Tão Perto, baseado no livro homônimo tão lacrimoso quanto sua adaptação, procura evocar a sensibilidade mas apela para esteios banais de sentimentalismos ao jogar luz sobra a busca de um garoto (insuportável) para entender a morte de seu adorado pai. O roteiro é inacreditavelmente injustificado e os (bons) personagens secundários não agregam em nada a fluência da trama. Enfim, os bocejos são incontroláveis em todo o filme…
O HOMEM QUE MUDOU O JOGO
Só queria saber em que mundo filmaços como Shame e Drive são inferiores a esse filme chatíssimo que tenta universalizar os meandros do baseboll para histórias humanas, mas só consegue esgotar a nossa paciência com blá blá blás técnicos e ganchos de superação mais batidos que filmes da Disney. Confesso que o diretor Bennet Miller é até talentoso, mas escolheu a história errada para demonstrar esse talento…
CAVALO DE GUERRA
Nunca vou entender essa indicação, até por que esse novo filme de Spielberg consegue ser mais previsível que O Discurso do Rei, só para citar um exemplo de filme que segue todas as cartilhas do Oscar. Num melodrama grandiloqüente que “faz homenagens” até a E o Vento Levou… (!) Spielberg nos preocupa com essa sina em querer se adequar ao que de mais arcaico e antiquado Hollywood tem para apresentar hoje no cinema.