Sempre curti muito a volatilidade de Steven Spielberg. O cara parecia ser e fazer o que quisesse no cinema. Qualquer deslumbrado que se pretende ser cineasta nutre, ainda que no seu íntimo, essa admiração pelo cara que, um dia faz arrasa quarteirões embolados de efeitos, no outro, dramas pessoais cheirando ao Oscar. Se isso funcionou durante os últimos 30 anos, atualmente fico com a incômoda sensação de que o diretor esteja encaretando… Ou tornando-se uma pastiche de si mesmo.
Cavalo de Guerra, nova superprodução de Spielberg, é baseado no romance War Horse do britânico Michael Morpurgo publicado em 1982 e que se transformou numa das peças teatrais mais aclamadas do momento ganhando diversos prêmios, inclusive o Tony Awards como melhor peça do ano passado. Um dos pontos altos da versão teatral é o fato de os cavalos serem reproduzidos como fantoches, de forma impressionante.
A história mostra a saga de um cavalo, desde seu nascimento em Devon, na Inglaterra, que é vendido para lutar na Primeira Guerra Mundial, em 1914, e enviado para França contra a vontade de seu dono, um jovem inglês que irá fazer de tudo para tentar recuperar seu animal.
Spielberg entrega aqui um de seus filmes mais irritantes, carregando pesado em fórmulas excessivamente melodramáticas, numa busca desesperada por uma emoção já implícita na força da trama original. Fica claro que há um deslumbramento do diretor com as imagens paradisíacas da locação, o que sacrifica até o contexto social da guerra retratada (um tanto superficial), assim como se vale do pior do melodrama Hollywoodiano dos anos 50 (no final “faz uma homenagem” à iluminação quente e artificial de E o vento levou… !!!!) e da estrutura a la “Odisséia” para reforçar a “humanidade” de seu cavalo.
Fiquei muito surpreso com esse resultado (até porque TinTim me parece muito bom) e até pela grife Spielberg, que já fala por si (mesmo virando caricatura uma vez que vê-se pelo filme vários maneirismos que Spielberg alimenta há anos como a relação infanto-juvenil com o mundo, a fotografia partindo da claustrofobia para o plano aberto nas trincheiras da guerra, trilha excessiva de John Williams, etc etc…). Ou seja, só podemos supor que o diretor esteja numa crise de meia idade e desesperado para pôr (mais) um Oscar na estante para se auto-afirmar.
[xrr rating=2/5]