Cinema em Casa: Blade Runner – O Caçador de Andróides

Diferente do JR. Dib e do Camino, não acredito que Blade Runner seja o melhor filme já produzido, nem mesmo o melhor filme de ficção científica, já que 2001: Uma Odisséia no Espaço tem conceitos filosóficos muito mais ricos e a frente de seu tempo que se mostram atuais e até futurísticos mesmo nos dias de hoje. Quanto ao melhor filme, quem sabe Laranja Mecânica, mas acho que sou muito suspeito pra falar de Stanley Kubrick, meu diretor favorito de muito longe, e ainda vou falar muito dele aqui no Ambrosia.

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Ridley Scott conseguiu fazer um filme que tem tantas nuances que um mero artigo é impossível de defini-lo, muito menos de contar as tantas filosofias e aprendizados teóricos que se pode tirar assistindo-o, mas vamos comentar alguns dos pontos mais curiosos desta grande obra do cinema. Primeiramente é importante deixar claro que o filme foi conturbado desde sua produção, atores estavam cansados, o diretor há havia perdido o controle total sobra a obra e, pra completar, foi um fiasco absoluto nas bilheterias, não só por ser um filme de arte vendido erroneamente como um blockbuster de ação, mas também por extrapolar no orçamento que um filme deste calibre deveria utilizar.

O Projeto

Scott queria um filme que tivesse ação, mas que, antes de tudo, fosse artístico e contestasse o futuro da sociedade humana em contraposição com suas próprias escolhas. Levemente inspirado no livro Ovelhas Eletrônicas do grandioso Philip K. Dick, a conceituação deste filme traria à tona não apenas os questionamentos supracitados, mas também seria uma grande referência para o cinema arte, com toques noir e totalmente feito à mão – não há efeitos especiais feitos por computador nem nada do tipo, mas tudo é construído com o cuidado de um ourives, como cenários, carros, detalhes e tudo o mais que desse o clima de um mundo do futuro, mas corrompido e corroído por seu próprios habitantes.

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Quando foi apresentar o projeto todo a os produtores da Warner, Scott já era famoso por seu trabalho em Alien, e levaria consigo Harrison Ford, que poucos anos antes havia conseguido fama mundial com o filme também espacial Guerra nas Estrelas. É impossível saber como o diretor apresentou o projeto aos produtores, mas não tem como não fazer uma graça imaginando que ele tenha dito que seria uma mistura de Alien com Star Wars, pois, a forma como o filme foi vendido e como seus trailers foram construídos, gerava justamente este tipo de expectativa para a película.

Os atores foram escolhidos da forma que deixou Ridley Scott famoso, bem como muitos outros diretores: dar a liberdade ao ator para criar seu personagem, sem nenhuma intervenção de sua parte. Isso chegou a gerar uma “rixa” entre ele e Ford, que prefere diretores que o aconselhem em como o personagem deve ser no filme. Em compensação, Darryl Hanna e Rutger Hauer criaram suas personalidades totalmente do zero, apenas com uma leve idéia do que fariam ali, e foram tão perfeitos que parecem terem sido criados sob encomenda. E se tem alguém que merece destaque, além dos citados acima, é o grande Almirante Adama, Edward James Olmos, que faz Gaff, um policial com aspecto maluco e todo urbano, que fala gírias estranhas e línguas estrangeiras, mostrando o quanto o mundo daquele tempo havia sido globalizado e as muitas tribos do mundo haviam se tornado uma única e bizarra sociedade. Por mais que Olmos tenha participado muito pouco, sua importância é tão grande quanto a dos protagonistas. Em poucos minutos, ele se torna um personagem símbolo por representar o quanto Los Angeles foi invadida pelo mundo todo – principalmente chineses! Mesmo sabendo que sua participação na obra seria pequena, o ator é tão bom que mesmo assim quis trabalhar em cada aspecto do papel que faria.

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A única pessoa que recebeu total atenção do diretor foi a atriz Sean Young. Ela não interpretava muito bem a personagem Racheal, muito menos tinha o talento desejado por Scott, mas seu aspecto tinha tanto a aparência das atrizes dos filmes noir dos anos 40 que ele não resistiu em escalá-la e dizer exatamente o que ela deveria fazer em cada cena.

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Ah sim, pra completar, o projeto original do filme tinha quase 4 horas de duração. Isso me faz lembrar David Lynch e Duna

Clima e Temática

Se você consegue fingir perfeitamente uma emoção, como pode provar que realmente não está sentindo-a?

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Harrison Ford é Deckard, um Caçador de Andróides que deve exterminar os replicantes Nexus 6, que haviam se reunido para uma revolução. Parece um bom tema para um filme de ação, não é mesmo? Mas a coisa se resume a isso. Deckard vive numa Los Angeles falida em 2019, ano em que muitas pessoas já deixaram a Terra e estão vivendo em colônias muito melhores. Isso é, na verdade, uma crítica excelente, já que as pessoas se esquecem de ver o que é seu para poluir, desmatar e destruir outros lugares. Aliás, Blade Runner é também, e é importante que isso seja frisado, uma grande denúncia social e política da própria humanidade. Não se vê mais animais com as pessoas, a não ser artificiais, nem se vê natureza, lugares belos e ensolarados. O mundo se acabou num lixão por culpa de seus próprios hóspedes.

Deckard executa o teste de Voight Kampf para encontrar os replicantes – basicamente o teste consiste na análise de íris do olha dos replicantes, com base em perguntas de ordem sexual, emocional e muitas outras. Mais sobre a história em si não será comentada aqui, pois é mais que recomendado que você, leitor, possa assisti-lo, em versão original, cortes finais do diretor, na versão “definitiva agora para sempre” lançada ano passado, não importa. Blade Runner é uma distopia acrescida de uma cultura esquecida há muito tempo em Hollywood: a de que o cinema passa uma mensagem para os espectadores.

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Os replicantes não são andróides, robôs nem nada do tipo. São construtos artificiais completamente humanos. O único meio de um replicante ser descoberto é com o teste supracitado, e esses seres só são “aposentados” se ele for provado como uma ameaça à sociedade. E é usando o conceito de simulacro na frase que abre este capítulo do artigo que nos faz pensar em quanto a vida artificial pode, simplesmente, se tornar real e natural. Afinal, no fundo, não e esse o desejo do ser humano ao brincar de Deus – criar uma forma de vida que possa durar mais do que ele mesmo?

Roy Batty, interpretado pelo fantástico e muito subestimado Rutger Hauer, também tem um destaque absurdo no filme, não só por ser o antagonista, mas por perceber no fim, mesmo sendo um replicante, o quanto tem de valor a vida do homem. “Eu vi coisas que vocês, humanos, não acreditariam. Naves de ataque em chamas perto da borda de Órion… a luz do farol cintilar no escuro, nos Portais de Tannhauser… Todos esses momentos se perderão no tempo como lágrimas na chuva. Hora de morrer”.

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Aspectos Técnicos

Blade Runner é o último filme de ficção científica feito totalmente sem efeitos computadorizados. Cada detalhe é um esmero cuidadoso dos responsáveis pela cenografia e clima do filme, comandadas pela genial mente de Ridley Scott. Uma curiosidade bem bacana é que o diretor levou o escritor Philip K. Dick para ver os cenários antes que o autor morresse e ele ficou maravilhado em como tudo que ele havia imagina quando escrevia seu livros nos 60 estava ali em sua frente sendo executado.

Outro detalhe muito bom é como o filme foi filmado: Blade Runner é uma ficção científica futurística totalmente noir, é uma mistura que causa um resultado explosivo e se transforma numa verdadeira experiência emocional. Uma ótima dica para que for vê-lo (ou revê-lo) é assisti-lo em preto e branco, e perceber como ele é totalmente noir, mas com o aspecto do futuro.

Simbologias Animais

Os animais aparecem bastante no filme como formas simbólicas e é muito bacana perceber este detalhe:

O final e a polêmica

O filme ultrapassou o tempo máximo dado pelos produtores para ser finalizado e, com isso, Ridley Scott perdeu totalmente o controle sobre ele, que foi dado a estas pessoas que, além de não entenderem nada do aspecto artístico do filme, quiseram meter o bedelho onde não deviam. Com isso, o filme teve seu final totalmente alterado, e acabou ganhando uma conclusão feliz na qual Deckard terminava junto com Rachael indo para um lugar lindo e natural. Além do final feliz ser totalmente desnecessário, é também completamente descabido – se existia um lugar tão lindo daquela forma na Terra, por que diabos as pessoas estavam num lugar nojento como Los Angeles e tantos outros lugares?

Há também a história de Deckard ser ou não um replicante. Existem muitos símbolos que corroboram para que ele seja e que corroboram para que ele não seja. Sinceramente, prefiro ficar ao lado do escritor do roteiro Hampton Fancher, que diz “o que importa é a pergunta que se faz, e não a resposta”.

Felizmente, Scott teve chance de mudar isso anos depois com sua versão do diretor, que realmente tinha muito mais nexo.

Trilha Sonora

Composta em totalidade por Vangelis, a trilha sonora de Blade Runner é uma grande epifania, um ascender da alma a um plano superior que somente a música poderia levar. Cada uma das faixas complementa a cena com muita maestria e, incrivelmente, todas elas funcionam perfeitamente fora de seu contexto, valendo uma ouvida em momentos de reflexão, tranquilidade e inspiração em sua casa ou no trabalho. Aliás, é claro, o artigo todo foi escrito com a trilha rolando nos fones =)

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Blade Runner não é melhor que 2001. Mas a graça é que nem precisa ser pra acrescentar muitas coisas para nossas vidas.

O artigo realmente ficou muito maior do que eu imaginava, mas mesmo assim fica impressão de que nada foi falado, tamanha a quantidade de influências e simbologias que a obra possui. Hora de dormir ouvindo um pouco da Vangelis e tentar imaginar que o futuro da humanidade mereça ser muito melhor que o mostrado no filme.

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