O que Lost, os Power Rangers e até o Homem-Aranha têm em comum? Todos são parte do maior conglomerado de entretenimento do mundo, atingindo (e divertindo) milhões de pessoas todos os dias… Mas tudo poderia ser diferente, não fosse a aposta maluca de um homem, e o sucesso estrondoso da história de uma princesinha e seus amigos baixinhos: Branca de Neve e os sete anões.
“Lábios como a rosa, cabelos como ébano, pele branca como a neve”. É com essas palavras que o espelho mágico revela à rainha que sua enteada, Branca de Neve, é agora a mulher mais bela do reino. Por despeito, ela ordena que a princesa seja executada, mas falta coragem ao caçador para atacar a menina, que foge pela floresta escura, até ser consolada pelos bichinhos e conduzida até uma casinha bagunçada, com móveis em miniatura. Ela arruma a casa, conquistando um lugar para se hospedar quando seus donos, os sete anões que trabalham na mina, a aceitam. O grupo se diverte enquanto a rainha descobre que Branca de Neve ainda vive, decidindo-se a agir por conta própria. Disfarçada, ela faz com que a menina morda uma maçã envenenada, mas morre ao ser confrontada pelos anões. Estes, não têm coragem de enterrar a princesa, e velam seu corpo numa clareira, até que o príncipe por quem Branca de Neve era apaixonada os encontra, e em sua dor, beija a moça. O “primeiro beijo de amor” quebra o feitiço e Branca de Neve desperta, para enfim ser feliz para sempre…
Esta é a história que o mundo conheceu em 21 de Dezembro de 1937, mas talvez o verdadeiro conto de fadas seja a saga que levou Walter Elias Disney a contá-la nas telas.
Loucura
Walt Disney nasceu em 1901 e sempre gostou de desenhar. Foi motorista de ambulância durante a primeira guerra e nos tempos de paz virou cartunista, com tiras de jornal e caricaturas. Descambando para um estúdio de propaganda, ele decidiu se tornar um animador, e no fim dos anos 20 já tinha fundado, com a ajuda do irmão Roy, o estúdio que produzia desenhos que ficariam famosos no mundo todo.
A década de 1930 viu nascer o ratinho Mickey, e o sucesso do personagem fez com que Walt ganhasse respeito e seu primeiro Oscar especial. Em 1934, ele começou a fazer experimentações em seus desenhos, contratar mais animadores (era o único estúdio contratando nos tempos difíceis da Depressão), e fazer testes de câmera, cores, som e desenho. Esses estudos eram a preparação para o sonho de Walt, fazer o primeiro filme de animação em longa metragem.
Para Hollywood, a idéia parecia uma loucura, e assim foi apelidada (A loucura de Disney). Para Disney, era tudo ou nada. Com todas as suas forças concentradas no projeto, se as previsões negativas se confirmassem, ele estaria falido e seria o fim do estúdio e do sonho.
Pré- produção
Em agosto de 1934, já com o conto dos irmãos Grimm escolhido, começaram as adaptações na história.
O filme de Disney é até bastante fiel ao conto original, sendo a principal mudança no final, já que no conto a rainha oferece três presentes para Branca de Neve, sendo a maçã o último deles. Também não é com um beijo que a princesa sai de seu sono eterno, e a rainha só morre quando é condenada a pagar por seu crime.
Acreditando que o grande trunfo do filme seriam os anões, Walt se concentrou neles, e foram surgindo piadas, idéias e músicas que ajudariam a contar a história. O foco mudou em 1935, já que Walt temia que o excesso de comédia tirasse a credibilidade do filme, voltando suas atenções para a relação entre Branca de Neve e a rainha. Muitos esboços foram feitos até que se definisse a imagem ingênua e encantadora de uma, em oposição ao glamour frio de outra.
A direção de arte ficou a cargo de Albert Hurter, e a identidade visual era a das ilustrações dos livros europeus, e não de cartoon. Filmes de estudo com atores serviram de base para que os animadores estudassem movimentos, e o expressionismo alemão deu o tom de algumas cenas.
Apesar do ceticismo de alguns, a platéia cheia de estrelas (Charles Chaplin, Clark Gable, Judy Garland, Mary Pickford e Shirley Temple, entre outros…) que assistiu o filme pela primeira vez no Carthay Circle Theater aplaudiu de pé. Sim, era um simples desenho, mas todos riram e choraram na hora certa, e Disney foi aclamado.
O New York Times publicou um “Muito obrigado, Sr. Disney”, e a academia lhe deu um Oscar especial e sete oscars em miniatura para homenagear sua ousadia. O filme, que entrou em circuito em Fevereiro de 1938, foi aclamado pelo público, e “a loucura de Disney” tornou-se o filme de maior bilheteria da história até o ano seguinte, quando …E O Vento Levou lhe tirou o título. O sucesso do filme fez a MGM correr para produzir seu primeiro filme infantil de fantasia, O Mágico de OZ, e Disney ficou rico.
Branca de Neve e os sete anões foi o primeiro filme a ter uma trilha sonora comercializada e é considerado como um dos mais significativos momentos do cinema pela crítica especializada, por sua qualidade e pioneirismo.
O retorno financeiro permitiu que Disney deixasse seus sonhos fluírem e o estúdio cresceu. Outras produções vieram, e em momentos de crise como a segunda guerra mundial, foram os relançamentos de Branca de Neve que ajudaram a equilibrar as finanças.
O resto, é história: os estúdios Disney cresceram, alcançando praticamente todo o tipo de mídia, se tornando a maior empresa de entretenimento do mundo. Em 2009, o sucesso de Branca de Neve é celebrado com uma nova edição em DVD e pela primeira vez, em Blu-Ray, para que as novas gerações possam desfrutar para sempre desse filme tão simples e ao mesmo tempo tão majestoso.